A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) suspendeu preventivamente um professor após várias alunas se queixarem de terem sido importunadas por ele nas redes sociais.
“O director da faculdade[Altamiro da Costa Pereira] determinou a suspensão preventiva e imediata do docente em causa e iniciará, logo que possível, os procedimentos necessários, visando o apuramento integral dos factos e a consequente tomada de decisões quanto ao futuro deste docente na instituição”, esclarece a instituição.
Por mensagem escrita, o professor em questão defende-se alegando roubo de identidade: “Gostaria de esclarecer, de forma inequívoca, que nunca assediei ninguém, seja pessoalmente ou através de meios digitais. Trata-se de uma caso de roubo de identidade. Nunca enviei qualquer mensagem e irei apresentar participação às autoridades competentes”.
Fonte oficial da reitoria da universidade confirmou que a queixa deu entrada nos serviços jurídicos esta sexta-feira, dia 24. Dizem que o professor as segue nas redes sociais, coloca likes (gosto) em fotos privadas, interage com as stories (histórias em vídeo partilhadas) e “manda mensagens inoportunas”.
“A acção transcende a Faculdade de Medicina. Alunas de outras faculdades relatam casos semelhantes. No nosso caso temos entre 17 e 22 anos e, após comparação, verificamos mensagens iguais do referido médico a seis colegas e no mesmo dia (…) Algumas de nós achávamos ser uma rede de uso profissional pelo conteúdo publicado, mas quando nos segue, põe likes, segue stories, coloca corações e manda mensagens a dizer que é cirurgião e professor parece-nos grave e inoportuno”, observam
Face à “gravidade das situações relatadas”, o director da faculdade determinou a suspensão preventiva e imediata do docente. A instituição sublinha, contudo, que até ao dia de hoje a “direcção da faculdade, a direcção do departamento em que o docente exerce funções, o respectivo superior hierárquico e a associação de estudantes da faculdade não tinham recebido qualquer queixa formal, ou sequer informações informais, relativamente ao comportamento” deste profissional.
E assegura que “todas as denúncias de comportamentos inapropriados são tratadas com a máxima seriedade e rigor, independentemente da forma como chegam ao conhecimento da instituição”. A Faculdade de Medicina reitera a sua “total condenação de qualquer forma de assédio, discriminação, intimidação, retaliação, violência física ou coação moral, em linha com o código de conduta da Universidade do Porto e com os princípios que regem a vida académica”. E exprime “solidariedade e apoio a todas as pessoas que se sintam afectadas por comportamentos desta natureza, nomeadamente às denunciantes, e assegura o seu compromisso em garantir que dispõem de acompanhamento institucional adequado durante o processo de apuramento” de responsabilidades.
Fonte da reitoria adianta que o procedimento habitual consiste em remeter a participação ao director da faculdade, referindo que o caso poderá seguir para “eventual inquérito”.
As queixosas, que não querem dar o nome por terem, segundo dizem, medo de “represálias na universidade, na Ordem dos Médicos ou na justiça”, acrescentam que o médico e professor orienta “diversas dissertações” e que é dirigente da Ordem dos Médicos.
O “médico e professor segue muitas mulheres e, outras, mais velhas queixam-se de igual forma de serem importunadas e perseguidas digitalmente, até porque falamos entre nós num grupo com mais de 200 mulheres. Cremos ser uma acção reiterada, há casos de mensagens iguais enviadas à mesma hora e inadequadas (…) Após falarmos entre nós verificamos que faz o mesmo com outras mulheres e interage em fotos de crianças e envia mensagens”, relatam.