O gabinete de investigação a acidentes ferroviários justifica as razões que levaram a corrigir a informação sobre a data em que foi trocado o tipo de cabo que era usado no Elevador da Glória. No quadro da investigação ao acidente de 3 de setembro que provocou 16 mortos, o GPIAAF emitiu uma primeira nota informativa, três dias depois, na qual refere que o tipo de cabo usado naquele veículo tinha sido substituído há “cerca de seis anos”.

Logo nesta nota informativa, o GPIAAF (Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários) indicou que o acidente foi causado pelo facto de o cabo ter cedido perto do ponto de fixação à cabina que descarrilou.

Cabo do elevador da Glória não estava certificado para transporte de pessoas. Relatório aponta falhas “acumuladas” à Carris

O relatório preliminar ao acidente, conhecido esta segunda-feira, indica que afinal o tipo de cabo usado no elevador foi mudado pela primeira vez em dezembro de 2022. Este processo de contratação começou em março daquele ano, tendo resultado na compra de dois cabos que não cumpriam as especificações da própria Carris para aquela utilização. Não estavam certificados para o transporte de passageiros e o certificado do fornecedor avisava que não eram adequados a sistemas com destorcedores, como o que estava instalado no elevador da Glória.

Numa resposta ao Observador, o GPIAAF explica que a primeira referência a uma data “correspondia à informação recolhida de pessoas no terreno, conforme disponível na altura”. Esta referência que apontava para 2019 era “coerente com uma especificação da CCFL (Carris)  de 2018 que se sabia existir onde estava previsto um cabo com alma em fibra, característica diferenciadora que se havia constatado visualmente no cabo existente aquando do acidente”.

Naquela altura, acrescenta o GPIAAF, “não havia sido detetado ainda que o cabo não correspondia efetivamente ao definido nas especificações” da Carris.

“Com o início da investigação e extensa recolha de documentação feita junto da CCFL (Carris) foi, entretanto, possível apurar os tipos e a cronologia exata dos cabos utilizados no Ascensor, tal como consta no Relatório Preliminar, tendo então ficado estabelecida a data exata de primeira aplicação do cabo do tipo envolvido no acidente, conforme detalhadamente descrito no referido relatório”.

Carris deu data errada à investigação do acidente no elevador da Glória

O esclarecimento surge na sequência de dúvidas suscitadas por um artigo do Expresso sobre a divulgação inicial de uma data anterior (e incorreta) que correspondia a um ano em que a Câmara de Lisboa era liderada pelo socialista Fernando Medina. A notícia atribuiu esta informação errada à Carris. A data corrigida coincide já com o mandato de Carlos Moedas à frente da autarquia que tem a tutela da Carris. E só foi conhecida esta semana, depois das eleições autárquicas.

A Carris veio entretanto desmentir ter dado ao GPIAAF a informação inicial sobre a data de mudança do cabo que consta da nota informativa de 6 de setembro.

Carris rejeita ter dado primeira informação sobre data de substituição do cabo do elevador da Glória 

A empresa diz que “nunca prestou a informação aludida na notícia, desde logo porque na altura se encontrava a apurar a factualidade referente à aquisição do cabo”. Afirma ainda que “os referidos dados não constam da vastíssima documentação que a CARRIS remeteu ao GPIAAF, no âmbito da investigação”.

Nesta explicação ao Observador, o gabinete de investigação de acidentes não refere se a informação inicial recolhida junto de pessoas no terreno sobre a data de substituição do cabo terá vindo de funcionários da Carris.

Mas justifica que as notas informativas publicadas apenas uns dias após o início das investigações “podem conter informações provisórias e passíveis de retificação nos relatórios preliminares (quando existam) ou nos relatórios finais das investigações, os quais sim são sempre baseados em evidências devidamente verificada”. Não obstante existir sempre uma preocupação de atingir o maior rigor.

E realça que apesar do relatório preliminar “não apresentar conclusões integradas e finais sobre o acidente por haver ainda diversas peritagens, ensaios e aspetos adicionais a analisar, naturalmente que toda a informação individual nele contida é factual e está suportada em evidências.”

O processo de contratação do cabo errado para o elevador da Glória iniciou-se em março de 2022, ainda no mandato da administração nomeada pelo presidente socialista, Fernando Medina, tendo a sua instalação ocorrido já na gestão escolhida por Carlos Moedas que entretanto se demitiu esta semana.

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