As minissaias e os microshorts dominam as passarelas e as ruas, marcando presença nas coleções de grifes internacionais e nos guarda-roupas urbanos. Apesar de algumas peças manterem o comprimento tradicional, cerca de um palmo acima do joelho, versões ainda mais curtas, logo abaixo da linha da calcinha e da cueca, ganham destaque pelo forte apelo visual e simbólico.
Além de surgirem em diferentes comprimentos, os shorts e as saias também não se limitam a um único tecido. Há opções em jeans, malha, alfaiataria, linho, crochê, além de modelos com babados e volumes bufantes. Essa variedade reforça o caráter versátil e expressivo do mini, que se adapta tanto ao dia quanto à noite, e transita entre o sensual, o moderno e o elegante.
Para a consultora de imagem Helô de Paula, o comprimento mini é uma tendência cíclica, que desaparece por um tempo, mas sempre retorna. Desde o fim da pandemia, ela observa que a moda tem atravessado mudanças profundas: do conforto do estilo comfy, típico do isolamento, à energia vibrante do color block, símbolo da retomada das rotinas. Nesse cenário de contrastes e reinvenções, o retorno do mini surge como uma representação de liberdade, personalidade e transgressão. “Demonstra uma vontade coletiva de leveza e ousadia”, destaca.
Um clássico reinventado
A consultora de imagem Marcele Monte Mór aponta que a volta do mini é também um resgate histórico. Com forte influência das décadas de 1960 e 2000, períodos marcados pela revolução dos costumes e pelo culto à juventude, essa tendência tem sido especialmente abraçada pela geração Z. Para ela, grifes como Miu Miu, Versace e Prada têm desempenhado papel fundamental nessa retomada, reinterpretando o mini em versões que vão do romântico ao urbano, do delicado ao esportivo.
O fenômeno, segundo Marcele, reflete o espírito de uma nova geração que vê na moda uma ferramenta de afirmação e experimentação. Para Helô de Paula, o curtinho também vai muito além da estética. Ele carrega uma narrativa sobre segurança, identidade e intenção de imagem. A especialista explica que a mesma peça pode representar liberdade ou vulnerabilidade, dependendo do olhar e da intenção de quem a usa. “Quando a mulher se sente segura, pode comunicar poder e leveza, mas, se a escolha parte da necessidade de aprovação ou comparação, o mesmo pode se tornar um símbolo de exposição.”
Marcele concorda que se vestir é, antes de tudo, um ato de comunicação. “A moda tem esse poder de ser uma forma de expressão individual e de liberdade, de revelar quem somos por meio do nosso estilo pessoal. Por isso, o mini pode representar sensualidade ou autenticidade, dependendo da intenção e do olhar de quem veste”, ressalta a consultora de imagem.
O diálogo com o movimento body positive
Se, no passado, peças curtas estiveram atreladas a um ideal de corpo, magro e padronizado, hoje elas se abrem a novas interpretações. Helô de Paula acredita que o comprimento pode dialogar com o movimento body positive, desde que a narrativa mude. Para ela, não existem biotipos certos ou errados, mas, sim, peças que valorizam cada forma de maneira distinta. O mini, nesse sentido, não deve ser exclusividade de corpos “padrão”, mas um instrumento de autoestima, aceitação e expressão individual. No entanto, é inegável que o mercado da moda ainda insiste em mostrar essa tendência em corpos muito específicos.
Marcele complementa que essa transformação passa pela autoaceitação. Em seu trabalho, percebe que muitas mulheres deixam de usar certas peças por não estarem no peso que desejam. Ela as incentiva a viver o presente, a vestir o que as faz bem e a cuidar do corpo que têm agora. Mais importante do que seguir tendências, afirma, é se reconhecer no espelho e ver ali sua própria essência.
Elegância no equilíbrio
Uma das principais discussões em torno do mini é o risco de cair na vulgaridade. Para Helô, o segredo está no equilíbrio: peças curtas combinadas a mangas longas, tecidos de qualidade e modelagens estruturadas comunicam sensualidade sem exagero. Mais do que o comprimento, o que define o resultado é o conjunto, a atitude, o styling e o contexto.
Marcele também aposta em composições que equilibram sensualidade e conforto. Ela sugere combinar o mini com camisas oversized, tênis ou coturnos, além de explorar sobreposições com casacos maxi e meia-calça. Essas escolhas, segundo a consultora, permitem que o mini apareça com informação de moda, sem perder a elegância.
Os desfiles mais recentes confirmam que o curto voltou sofisticado. Helô destaca a força dos tecidos de alfaiataria, linho com elastano, jacquard e tweed, especialmente em saias curtas de corte reto. O couro, por sua vez, traz um toque de rebeldia, enquanto paetês, metalizados e acetinados permitem que o mini transite do dia para a noite.
Já Marcele observa uma ampla diversidade de materiais. Sarja, denim, gabardine e couro aparecem em propostas mais estruturadas, enquanto tecidos fluidos, como seda e viscose, criam leveza e movimento. Aplicações de cristais, rendas e drapeados também marcam presença, revelando um mini que pode ser glamouroso, romântico ou casual.
Mais do que um símbolo feminino, o mini conquista também o guarda-roupa masculino. Helô de Paula ressalta que o comprimento é sobre expressão, e não sobre gênero. Nas passarelas, homens têm explorado o mini como uma forma de liberdade e ruptura com antigos códigos de masculinidade. Marcele acrescenta que o mini aparece cada vez mais na moda masculina, especialmente em versões esportivas, de praia e até na alfaiataria.
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Giovanna Kunz  Revista do Correio
É estudante de jornalismo na Universidade de Brasília (UnB). Atuou como estagiária na editoria de Cultura do Correio Braziliense e integrou a equipe da coluna Claudia Meireles, no Metrópoles. Atualmente, escreve para a Revista do Correio.