José Manuel Pureza pode vir a ser candidato à liderança do Bloco de Esquerda. Antigo deputado e candidato à Câmara de Coimbra nas últimas autárquicas, é uma das figuras mais respeitadas do partido. Foi deputado entre 2009 e 2011 e de 2015 a 2022. Liderou o grupo parlamentar e chegou também a ser vice-presidente do Parlamento. Católico assumido, foi um dos protagonistas na luta pela despenalização da morte medicamente assistida.
Numa nota enviada à Agência Lusa, José Manuel Pureza disse estar confiante de que será possível encontrar uma solução que “dê força” ao partido, rejeitando, para já, qualquer tipo de “precipitação”. “No Bloco, cada moção apresentará à Convenção Nacional a sua proposta de orientação política e a sua solução de direção. Há, na moção que subscrevo, várias pessoas com grande capacidade para coordenar o Bloco”, sublinha. .
“Estou empenhado nela exatamente da mesma forma que todos os meus camaradas. Nem mais nem menos. Estou certo de que saberemos encontrar na próxima Convenção do Bloco uma solução que dê força ao Bloco. Até lá, todos os cenários são precipitados”, remata Pureza na mesma nota.
Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda anunciou neste sábado que não se irá recandidatar ao cargo de coordenadora do partido que tem convenção nacional no final de novembro. Em conferência de imprensa, a própria confirmou publicamente que deixará a liderança dos bloquistas já depois de ter enviado uma mensagem aos militantes do partido onde explicava os seus motivos.
“Tomo esta decisão porque considero que o Bloco pode beneficiar de ter outras pessoas e outras vozes. É uma decisão pessoal. A decisão sobre o futuro do Bloco é uma decisão coletiva que acontecerá na próxima Convenção”, afirmou a bloquista aos jornalistas. Mariana Mortágua anuncia ainda que vai deixar o Parlamento assim que terminar o processo orçamental.
Em conferência de imprensa, Mariana Mortágua explicou que começou a ponderar a saída depois das últimas eleições autárquicas e que só não o anunciou mais cedo porque, justificou, “seria irresponsável tomar uma decisão irrefletida e deixar o Bloco numa situação de vazio para uma convenção que estava marcada para novembro”.
A terminar, a bloquista garantiu que vai continuar a ajudar a “construir a esquerda”. “Quero fazer política, lutar pelo meu país, pelo meu povo. Continuarei a fazer política e continuarei a fazer política dentro do Bloco de Esquerda. Não como coordenadora, nem como deputada”, sublinhou a bloquista.
Antes, numa mensagem enviada aos militantes Mortágua escreveu: “Tomo esta decisão com a tranquilidade que me deu o constante apoio de todos os meus camaradas ao longo de todo este tempo. Faço-o por acreditar que o Bloco beneficiará de ter, na coordenação e no parlamento, pessoas com melhores condições do que aquelas que hoje tenho para dar voz ao partido”.
“Caberá a cada uma das moções presentes à próxima Convenção apresentar as suas alternativas de direção”, afirma a ainda coordenadora do partido que tem convenção nacional no final de novembro. “A pluralidade reforça-nos.”
Mariana Mortágua assume que “não foi cumprido” o objetivo de, após o “colapso da maioria absoluta do PS e com o reforço da direita e da extrema-direita”, “encontrar outros caminhos”.
Esse objetivo não foi cumprido, considera a deputada, “não apenas porque continuou a redução do espaço eleitoral do Bloco, mas também porque a renovação que então fizemos não se revelou suficiente para relançar a nossa intervenção social”.
Parte do problema, acrescenta, está no facto de ter havido, “nestes dois anos e meio, uma precipitação de sucessivas campanhas eleitorais [que] tirou espaço e tempo à reflexão interna e prejudicou uma transformação efetiva do funcionamento do Bloco”.
Manifestando-se disponível para continuar parte do “caminho” do partido, algo que já faz há 20 anos. “Não temos medo e venceremos os novos fascistas e toda a opressão com a força da ideia socialista”, promete.
Ouça aqui a conferência de imprensa de Mariana Mortágua
Mariana Mortágua: “Decisão foi pessoal. BE beneficia ao ter outras vozes”
A mensagem de Mariana Mortágua, na íntegra:
Camarada,
Há dois anos e meio, quando decidi candidatar-me à coordenação do Bloco de Esquerda, conhecia as difíceis condições políticas da esquerda e do nosso partido. Depois do colapso da maioria absoluta do PS e com o reforço da direita e da extrema-direita era preciso encontrar outros caminhos.
Considero que esse objetivo não foi cumprido. Não apenas porque continuou a redução do espaço eleitoral do Bloco, mas também porque a renovação que então fizemos não se revelou suficiente para relançar a nossa intervenção social.
A política, como a vida, somos nós e as nossas circunstâncias. Nestes dois anos e meio, a precipitação de sucessivas campanhas eleitorais tirou espaço e tempo à nossa reflexão interna e prejudicou uma transformação efetiva do funcionamento do Bloco. A direção por mim encabeçada foi incapaz de inverter a excessiva centralização da estrutura do Bloco e gerar um novo impulso político e eleitoral. Bem sabemos das empenhadas campanhas de ódio dos nossos adversários, mas o certo é que não conseguimos neutralizá-las.
Face a este balanço e agora que termino o mandato que me foi conferido na última Convenção, comunico-vos que decidi não me candidatar a um novo mandato de coordenadora do Bloco de Esquerda. Tomo esta decisão com a tranquilidade que me deu o constante apoio de todos os meus camaradas ao longo de todo este tempo. Faço-o por acreditar que o Bloco beneficiará de ter, na coordenação e no parlamento, pessoas com melhores condições do que aquelas que hoje tenho para dar voz ao partido. Caberá a cada uma das moções presentes à próxima Convenção apresentar as suas alternativas de direção. A pluralidade reforça-nos.
A esquerda em geral – e o Bloco em particular – atravessa um período difícil e não é só no nosso país. No Bloco, temos orgulho em juntar diferentes gerações, experiências e sensibilidades que são parte essencial da luta popular em Portugal, nos combates do trabalho, da casa, contra as guerras e pela autodeterminação dos povos do mundo.
Estes são os tempos que nos toca viver e o Bloco tem a história, as ideias, a coerência e a militância para os enfrentar e para surpreender mais uma vez quem se assanha para nos atacar. Não temos medo e venceremos os novos fascistas e toda a opressão com a força da ideia socialista. Serei parte desse caminho, como sou há quase vinte anos. Confio neste partido, na gente que o faz. Conta comigo.
Um abraço,
Mariana
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