Uma carta a ser tornada pública em breve pela maior parte dos herdeiros de Tarsila do Amaral abre um novo racha entre os descendentes da artista numa briga cada vez mais agressiva para ver quem, de fato, deve comandar os seus direitos autorais e, claro, embolsar o dinheiro que as peças raríssimas da modernista ainda podem render.

No documento, um conjunto importante dos 56 herdeiros de Tarsila afirma estar preocupado ao extremo com os “rumos atuais da gestão de direitos autorais de que são titulares”. O estopim por trás da missiva foi uma conferência dada pelos atuais responsáveis pela marca da artista na Casa das Rosas, em São Paulo, no fim do mês passado, em que fizeram uma demonstração de como suas obras passarão a ser autentificadas, ou seja, declaradas legítimas para o mercado.

Todo o processo agora depende da análise de Douglas Quintale, perito contratado pelo grupo opositor dessa parte dos herdeiros, que declarou como verdadeira uma pintura polêmica atribuída a Tarsila ofertada na feira SP-Arte do ano passado por R$ 16 milhões e hoje sendo negociada por R$ 60 milhões.

O quadro causou uma avalanche de dúvidas pelo histórico apresentado —a peça nunca teria sido vista porque estava havia décadas no Líbano— e foi apontado como falso por grande parte do establishment artístico do país —os herdeiros, é claro, só têm a lucrar com sua autentificação, já que teriam direito ao chamado direito de sequência, uma fração do dinheiro da revenda que cabe ao artista ou, no caso, a seus descendentes.

O movimento dos novos controladores dos direitos de Tarsila foi afastar os pesquisadores responsáveis por seu catálogo raisonné, a compilação oficial de todas as obras de um artista, silenciar esses críticos, entre eles Aracy Amaral, a maior autoridade no país em relação a Tarsila, e nomear um novo perito.

O objetivo do grupo liderado por Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da artista antes no controle de seus direitos autorais, é tirar da firma familiar Tarsila do Amaral Empreendimentos e Licenciamentos, a Tale, o domínio sobre os direitos autorais da artista. Na carta, eles afirmam não reconhecer a empresa como controladora da imagem da modernista.

Procurada, Paola Montenegro, a sobrinha-bisneta DJ e atual diretora da Tale, disse que a empresa “não vai entrar no mérito de opiniões isoladas, porque o trabalho que foi realizado envolve competências técnicas de especialistas e peritos”.


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