“Comunico-vos que decidi não me candidatar a um novo mandato de coordenadora do Bloco de Esquerda”, indica Mariana Mortágua na mensagem aos militantes, a que a RTP teve acesso.A carta de Mariana Mortágua sela o fim de um ciclo no Bloco de Esquerda que teve início no final de maio de 2023, quando foi eleita com mais de 80 por cento dos votos na Convenção do partido.
“Há dois anos e meio, quando decidi candidatar-me à coordenação do Bloco de Esquerda, conhecia as difíceis condições políticas da esquerda e do nosso partido. Depois do colapso da maioria absoluta do PS e com o reforço da direita e da extrema-direita era preciso encontrar outros caminhos“, começa por escrever na carta.
“Considero que esse objetivo não foi cumprido. Não apenas porque continuou a redução do espaço eleitoral do Bloco, mas também porque a renovação que então fizemos não se revelou suficiente para relançar a nossa intervenção social“, prossegue.
“A política, como a vida, somos nós e as nossas circunstâncias. Nestes dois anos e meio, a precipitação de sucessivas campanhas eleitorais tirou espaço e tempo à nossa reflexão interna e prejudicou uma transformação efetiva do funcionamento do Bloco. A direção por mim encabeçada foi incapaz de inverter a excessiva centralização da estrutura do Bloco e gerar um novo impulso político e eleitoral. Bem sabemos das empenhadas campanhas de ódio dos nossos adversários, mas o certo é que não conseguimos neutralizá-las“, admite a coordenadora cessante do Bloco.Mariana Mortágua sublinha avançar para esta “decisão com a tranquilidade” que lhe foi conferida pelo “constante apoio” do camaradas de partido.
“Faço-o por acreditar que o Bloco beneficiará de ter, na coordenação e no parlamento, pessoas com melhores condições do que aquelas que hoje tenho para dar voz ao partido. Caberá a cada uma das moções presentes à próxima Convenção apresentar as suas alternativas de direção. A pluralidade reforça-nos”.
“A esquerda em geral – e o Bloco em particular – atravessa um período difícil e não é só no nosso país. No Bloco, temos orgulho em juntar diferentes gerações, experiências e sensibilidades que são parte essencial da luta popular em Portugal, nos combates do trabalho, da casa, contra as guerras e pela autodeterminação dos povos do mundo”, lê-se ainda no texto.
“Estes são os tempos que nos toca viver e o Bloco tem a história, as ideias, a coerência e a militância para os enfrentar e para surpreender mais uma vez quem se assanha para nos atacar. Não temos medo e venceremos os novos fascistas e toda a opressão com a força da ideia socialista. Serei parte desse caminho, como sou há quase vinte anos. Confio neste partido, na gente que o faz. Conta comigo”, conclui.
Mariana Mortágua, com 39 anos, foi a única deputada eleita pelo partido nas últimas eleições legislativas. Na lista do BE pelo círculo de Lisboa, figuraram em segundo lugar Fabian Figueiredo, antigo líder parlamentar e, em terceiro, Andreia Galvão, que substituiu a coordenadora bloquista no Parlamento quando esta integrou a flotilha que tentou chegar à Faixa de Gaza.O resultado do Bloco nas legislativas foi o pior de sempre, passando de cinco deputados para uma.
Nas eleições autárquicas deste mês, o partido passou de cinco vereadores e 94 deputados municipais para uma vereadora em Lisboa, eleita pela coligação que reuniu PS, BE, Livre e PAN, e, ao todo, 17 deputados em câmaras municipais e freguesias.
A coordenadora do BE marcou para esta tarde uma conferência de imprensa.
c/ Lusa