Szilard Koszticsak / EPA

As sanções americanas ao petróleo russo prometem criar algum desconforto na longa amizade entre Orbán e Trump, dada a dependência energética da Hungria de Moscovo.

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, anunciou na sexta-feira que o seu Governo está a procurar formas de contornar as novas sanções americanas às empresas russas de petróleo e gás.

A declaração surge após a decisão de Donald Trump, no início desta semana, de impor restrições abrangentes à Lukoil e à empresa estatal Rosneft, as primeiras sanções significativas da sua administração.

Em declarações ao programa de rádio estatal Bom Dia Hungria, Orbán disse que Budapeste estava a “trabalhar na forma de contornar estas sanções” em coordenação com os executivos da MOL, a empresa nacional de energia da Hungria.

Orbán alega que as medidas ameaçam a segurança energética da Hungria, uma vez que o país depende fortemente do fornecimento russo. “Qualquer pessoa que pretenda reduções nos preços dos serviços públicos deve defender o direito da Hungria de comprar petróleo e gás à Rússia”, declarou Orbán, enquadrando a questão como uma questão de sobrevivência económica nacional.

As novas sanções americanas deverão restringir severamente a capacidade da Rússia de exportar petróleo para a Europa, forçando potencialmente Moscovo a encerrar oleodutos importantes. Isto deixaria a Hungria, uma nação sem litoral e com acesso limitado a rotas alternativas, especialmente fragilizada no fornecimento de combustível, com Orbán a prometer que “a batalha ainda não acabou”.

As sanções norte-americanas podem azedar as relações entre os líderes húngaro e americano, que são aliados de longa data e já trocam elogios desde o primeiro mandato de Trump na Casa Branca. Em 2023, o primeiro-ministro húngaro afirmou que “Trump é aquele que pode salvar o mundo ocidental e provavelmente toda a humanidade”. Já durante a campanha presidencial de 2024, Trump teceu grandes elogios a Orbán, descrevendo-o como “um líder fantástico” e um “homem durão”.

Há muito que a Hungria se distancia da política energética mais vasta da União Europeia e os choques entre Orbán e Bruxelas têm sido constantes em vários temas. Embora a maioria dos membros da UE tenha reduzido drasticamente as importações de combustíveis fósseis russos desde a invasão da Ucrânia, Budapeste continua a depender de Moscovo, argumentando que a sua economia entraria em colapso com os preços mais elevados da energia. A vizinha Eslováquia adoptou uma postura semelhante, mantendo fortes laços energéticos com o Kremlin.

O primeiro-ministro húngaro tem justificado repetidamente a sua posição citando a geografia, já que a Hungria não tem acesso a portos marítimos e, por isso, depende de oleodutos russos. No entanto, os críticos defendem que existem alternativas. A Croácia, por exemplo, afirmou que poderia satisfazer as necessidades energéticas da Hungria e da Eslováquia através do oleoduto Adria e da sua infra-estrutura de GNL.

As declarações de Orbán irão provavelmente aprofundar as divergências entre a Hungria e os seus aliados ocidentais, ocorrendo numa altura em que Bruxelas e Washington tentam endurecer as sanções contra a Rússia. Caso Budapeste avance com os esforços para contornar as restrições, poderá enfrentar repercussões diplomáticas e um escrutínio renovado no seio da União Europeia, onde os seus laços estreitos com Moscovo são um ponto de discórdia há muito tempo.


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