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O nome original, em russo, refere-se ao painho-do-temporal (Hydrobates pelagicus), uma pequena ave marinha que habita o Atlântico Norte e o Mediterrâneo. O novo míssil nuclear apresentado, com honras militares, por Vladimir Putin, foi batizado com o nome desse pássaro – Burevestnik – e, embora alguns especialistas desvalorizem a sua importância real, outros avisam que se trata de uma arma perigosa capaz de libertar radioatividade à medida que voa ao longo de, potencialmente, vários dias. Uma cientista chama-lhe, por essa razão, um “Chernobyl voador“.
A Rússia anunciou, no domingo, ter realizado com sucesso um teste do míssil de cruzeiro Burevestnik 9M730, uma arma nuclear cuja propulsão também é gerada a partir de energia nuclear. O Presidente russo, Vladimir Putin, apareceu em uniforme militar, rodeado de altos comandantes das forças armadas, e descreveu a arma como “impossível de intercetar”, com um alcance praticamente ilimitado.
O chefe do Estado-Maior russo, o general Valery Gerasimov, informou o Presidente de que o míssil percorreu 14.000 quilómetros durante 15 horas de voo, acrescentando que “esse não é o limite” das suas capacidades. Por isso, Putin declarou que o Burevestnik representa uma arma “sem equivalente no mundo” e ordenou o início dos preparativos para a sua futura integração nas forças armadas russas.
O míssil é conhecido pela NATO como SSC-X-9 Skyfall e é concebido para contornar os sistemas de defesa antimíssil ocidentais, voando a baixa altitude e durante longos períodos de tempo, graças ao seu motor propulsionado pelo tal pequeno reator nuclear.
Alguns especialistas (ocidentais) consideram que, por entre a propaganda do Kremlin, este projeto continua a ser extremamente perigoso e de utilidade militar duvidosa. A Nuclear Threat Initiative (NTI), um organismo norte-americano dedicado à segurança nuclear, recorda que o Burevestnik tem um histórico de insucessos, com pelo menos 13 testes conhecidos nos últimos 10 anos, praticamente, dos quais apenas dois tinham tido sucesso parcial.
Em 2019, um acidente durante uma tentativa de recuperação de um protótipo no mar Branco provocou uma explosão que matou cinco técnicos da agência nuclear russa, Rosatom, e libertou radiação na região. O próprio Putin condecorou as viúvas das vítimas, elogiando o “trabalho heroico” dos cientistas que morreram.
Segundo a NTI, o míssil poderia voar durante dias a uma altitude entre 50 e 100 metros, evitando radares e defesas, e transportar uma ou mais ogivas nucleares capazes de atingir alvos em qualquer ponto do planeta. No entanto, esta tecnologia implicaria risco de contaminação radioativa ao longo de toda a sua trajetória — o que levou a cientista nuclear Cheryl Rofer a descrevê-lo como “um Chernobyl voador”.
O míssil poderia voar durante dias a uma altitude entre 50 e 100 metros.
O especialista norte-americano Thomas Countryman, do Arms Control Association, destaca que “o Burevestnik é uma arma estúpida e perigosa, que representa maior ameaça para a Rússia do que para qualquer inimigo.”
O míssil tem um alcance máximo teórico de até 20.000 quilómetros, o que lhe permitiria atingir os EUA a partir de qualquer ponto da Rússia, de acordo com o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS). O norte-americano Centro Nacional de Inteligência Aérea e Espacial da Força Aérea refere, num relatório de 2020, que se a Rússia colocasse o Burevestnik em serviço com sucesso, isso daria a Moscovo uma “arma única com capacidade de alcance intercontinental“.
Ainda assim, vários analistas consideram que, por viajar a uma velocidade subsónica, o sistema seria lento e vulnerável, não oferecendo uma vantagem estratégica real em relação aos mísseis balísticos intercontinentais já em serviço.
Apesar das dúvidas e das preocupações ambientais, o Kremlin mostrou-se decidido a continuar o desenvolvimento deste projeto, que Putin vê como símbolo da capacidade tecnológica e da dissuasão estratégica russa face ao Ocidente.
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