A Alemanha apresentou um vídeo-esboço orçamental segundo o qual a Bundeswehr deverá receber até 377 mil milhões de euros em aquisições de Defesa, abrangendo domínio terrestre, aéreo, naval, espacial e ciberespaço. O documento interno do Governo alemão, avançou o jornal ‘POLITICO’, integra o quadro de reformas com vista a “transformar a Bundeswehr no exército convencional mais forte da Europa”, conforme declarava o chanceler alemão Friedrich Merz em maio último.

O documento de 39 páginas lista concretizações pretendidas para diversos ciclos orçamentais e várias décadas. O conjunto de compras previstas insere-se no plano de dotar a Bundeswehr de capacidades modernas e sustentadas, com forte destaque na indústria nacional. Ao mesmo tempo, o financiamento prevê contornar, em parte, os limites impostos pelo “travão da dívida” constitucional alemã, de modo a permitir investimentos plurianuais além do fundo especial de 100 mil milhões de euros criado sob o Governo de Olaf Scholz.

Segundo dados publicados, o plano de modernização da Bundeswehr prevê cerca de 320 novos projetos de armamento no próximo ciclo orçamental, dos quais 178 já indicam contratantes ou fornecedores listados.

A maior parte dos valores estará alocada a empresas alemãs: cerca de 160 projetos, com um valor estimado em 182 mil milhões de euros, referem-se à indústria nacional. Em primeiro plano figura o grupo Rheinmetall AG, envolvido em 53 linhas de projeto distintas, avaliadas em mais de 88 mil milhões de euros.

Principais áreas de investimento

Entre os programas destacados, encontram-se:

– A aquisição de 687 veículos de combate Puma, incluindo 662 versões de combate e 25 para treino, até 2035.

– Compra de 561 sistemas de defesa aérea Skyranger 30 para neutralização de drones e ameaças de curto alcance.

– Investimentos superiores a 14 mil milhões de euros em programas de satélites, com destaque para uma constelação em órbita terrestre baixa, avaliada em cerca de 9,5 mil milhões de euros, para garantir conectividade resistente e permanente.

– Planeamento para a aquisição de cerca de 15 caças F-35 da Lockheed Martin, por cerca de 2,5 mil milhões de euros, levantando debate sobre a dependência de tecnologia externa e o equilíbrio com a indústria europeia.

Impactos e desafios

Este plano de aquisições marca uma viragem clara na abordagem alemã à Defesa: além de reforçar capacidades militares convencionais, a Alemanha procura assumir um papel mais robusto no âmbito da NATO e da segurança europeia. O investimento massivo reflete a urgência em modernizar forças envelhecidas e dotar-se de ferramentas mais autónomas e eficazes.

Contudo, o cumprimento deste ambicioso cronograma depende de múltiplos fatores: execução orçamental, aprovação parlamentar dos contratos com valor superior a 25 milhões de euros, e capacidade industrial de produção dentro dos prazos.

Adicionalmente, a ênfase em equipamento nacional traz tensão política no âmbito de parcerias europeias e transatlânticas: a coexistência entre compras internacionais, como os F-35, e a preferência por fornecedores europeus revela dilemas estratégicos de soberania e interoperabilidade.

O plano de 377 mil milhões de euros para a Bundeswehr evidencia a determinação da Alemanha em elevar significativamente as suas capacidades militares convencionais e tecnológicas. O documento suporta a promessa de Friedrich Merz de entregar “todos os recursos financeiros de que necessita” ao exército alemão. A concretização destas intenções exigirá, contudo, coesão política, robustez industrial e equilíbrio entre objetivos nacionais e alianças internacionais.