Um visitante raro e inesperado tem viajado pelo Sistema Solar nos últimos dias, gerando curiosidade e especulações sobre sua trajetória incomum. Trata-se do 3I/Atlas, um cometa interestelar cuja passagem pela nossa vizinhança poderá oferecer aos cientistas uma oportunidade única de estudar materiais formados em outro sistema, sob condições completamente diferentes das já conhecidas, além de trazer pistas sobre a formação do universo.
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Veja o que se sabe sobre o cometa:
Apesar de especulações sobre origem alienígena, observações científicas confirmaram que o 3I/Atlas nada mais é do que um cometa interestelar, ou seja, um visitante pra lá de raro e que veio de fora do nosso Sistema Solar. Essa classificação foi corroborada pela presença de cauda e coma (aquela “nuvem brilhante” ao redor do núcleo, também chamada de “cabeleira”) e por sua trajetória hiperbólica, que indica energia suficiente para “escapar” da gravidade do Sol e seguir a sua própria rota.
Ele é o terceiro objeto interestelar conhecido a atravessar a nossa vizinhança (daí também veio o seu nome: “3I”, sendo “i” de interestelar, e por ter sido descoberto pelo sistema de varredura astronômica Asteroid Terrestrial-Impact Last Alert Survey System, o “Atlas”), sendo os anteriores o 2I/Borisov, em 2019, e o 1I/Oumuamua, em 2017.
Quando ele foi descoberto?
Ele foi visto pela primeira vez em 1º de julho de 2025 pelo sistema Atlas, localizado em Río Hurtado, no Chile. Algumas imagens de recuperação mostraram que ele já aparecia em dados de maio e junho, ainda sem ser identificado.
O objeto foi identificado a mais de 670 milhões de km do Sol, viajando a uma velocidade de 61 km/s. Seu núcleo rochoso pode ter entre 400 m e 5,6 km de diâmetro, com uma massa superior a 33 bilhões de toneladas, tornando-o um dos maiores corpos desse tipo já observados.
Além disso, segundo a Agência Espacial Europeia (ESA), com base em sua trajetória, estima-se que ele também seja o cometa mais antigo já observado, com cerca de 7,6 bilhões de anos, isto é, 3 bilhões de anos mais velho que o Sistema Solar.
De onde ele veio e para onde ele vai?
De acordo com cientistas, o 3I/Atlas provavelmente se formou em torno de outra estrela no centro da Via Láctea e foi possivelmente ejetado por interações gravitacionais com algum outro corpo massivo, viajando pelo espaço até cruzar o nosso Sistema Solar por acaso.
— Se você traçar sua órbita para trás, parece vir mais ou menos do centro da galáxia — disse ao New York Times Paul Chodas, diretor do Centro de Estudos de Objetos Próximos à Terra no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa. — Definitivamente veio de outro sistema solar. Não sabemos qual.
Após passar pelo Sol, o cometa será observado pela sonda Jupiter Icy Moons Explorer (ESA) em fevereiro de 2026, quando estará no pico de sua atividade. Em março, ele passará por Júpiter e, em seguida, deixará o Sistema Solar para sempre, seguindo sua trajetória hiperbólica.
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O cometa representa perigo para a Terra?
Não. Segundo as estimativas da Nasa e a Agência Espacial Europeia (ESA), o 3I/Atlas passará a uma distância de aproximadamente 240 milhões de km da Terra, e sua aproximação mais próxima ao Sol será em torno de 210 milhões de km, bem longe da órbita terrestre. Estima-se que o ponto máximo de proximidade ocorra nos próximos dias.
Por que a comunidade científica está de olho do cometa?
Tratando-se de um objeto interestelar e devido às suas características únicas, há várias frentes de observação possíveis, que poderão ser estudadas a partir da campanha de observação da Rede Internacional de Alerta de Asteroides (IAWN), coordenada pela Nasa.
A primeira é a composição química do 3I/Atlas: segundo observações do Telescópio Espacial James Webb, há indícios de proporção bastante alta de dióxido de carbono (CO₂) em relação à água, cerca de oito vezes maior do que a observada em cometas típicos no Sistema Solar. Além disso, ele começou a liberar gás e poeira muito longe do Sol, contrariando os modelos conhecidos.
Sua dinâmica de trajetória também é motivo de ampla curiosidade, e entender como ele foi ejetado de seu sistema original e como viajou até a nossa vizinhança pode revelar muito sobre objetos interestelares em geral.
— Esses objetos são os primeiros blocos de construção que podemos observar nesses sistemas — explicou Michael Küeppers, cientista do projeto na missão Comet Interceptor da ESA, ao jornal britânico The Guardian. — Eles nos contam sobre as condições no sistema estelar onde se formaram.
Também há grande expectativa sobre como ele reagirá ao aquecimento do Sol. O fato de exibir atividade (dada a presença da cauda e cabeleira) mesmo antes de entrar no Sistema Solar ajudará a preparar futuros modos de detecção e estudo desses visitantes.
— É uma janela para o que o material primitivo representa para outros sistemas solares, que é precioso e, por sua vez, nos ajuda a refinar nossos modelos de como pode ser a formação do sistema solar — disse Jacqueline McCleary , professora assistente de física na Northeastern University. — Nosso sistema solar é comum ou raro? Parece ser relativamente raro, e isso nos ajuda a quantificar isso.
Com agências internacionais.