Influente músico de jazz, Jack DeJohnette tocou, desde os anos 1960, com alguns dos maiores nomes do género. O baterista morreu este domingo aos 83 anos, de insuficiência cardíaca, notícia que foi confirmada pela família ao diário norte-americano The New York Times. Muito versátil, capaz de ir a várias correntes do jazz, incluindo as mais exploratórias, e outras músicas, como o rock e o r&b, olhava para o seu lugar na música não só como alguém que marcava o tempo para os outros músicos tocarem, mas como um pintor que coloria a música.
Nascido na zona sul de Chicago em 1942, começou a aprender piano muito novo e no liceu cantou doo-wop, tocando também rock’n’roll. Virou-se para a bateria quando ouviu um disco de Ahmad Jamal e reparou naquele instrumento. Por uns tempos, tocou os dois, até o saxofonista Eddie Harris, com quem colaborou, o ter recomendado a optar, como confessou ao Ípsilon em 2010, antes de uma vinda ao Festival Jazz em Agosto. Mas a ligação ao piano manteve-se na abordagem à bateria, vendo os dois como os instrumentos de percussão, que tecnicamente o são. Além de acompanhante, era também compositor, líder da sua própria banda. DeJohnette tem discos a tocar piano, a solo ou acompanhado, e outros teclados, como sintetizadores, e disso são exemplos The Jack DeJohnette Piano Album, de 1985 (acompanhado) e Return, de 2016 (solo).
DeJohnette começou a tocar aos 14 anos. Ainda em Chicago, tocou com Sun Ra e acompanhou, durante três temas, John Coltrane num concerto. Em 1966, mudou-se para Nova Iorque e acabou por fazer parte do popular quarteto do saxofonista Charles Lloyd, o grupo que gravou Forest Flower e que passou por Cascais, no bar Luisiana, nesse mesmo ano. Fez parte do trio de Bill Evans e foi chamado para integrar a formação eléctrica de Miles Davis, que, influenciado pelo trabalho psicadélico de gente como Jimi Hendrix ou Sly Stone, assinou discos como o inigualável Bitches Brew ou Jack Johnson, Live-Evil ou On the Corner, clássicos do género.
Com Keith Jarrett, que tinha estado ao seu lado no trabalho com Lloyd e Davis, estabeleceu uma parceria que durou décadas, primeiro num disco como duo, Ruta and Daitya, e depois, entre o início dos anos 1980 e as três décadas que se seguiram, no Standards Trio, com o contrabaixista Gary Peacock, que olhava para standards do cancioneiro americano. Existiram entre 1983 e 2014, e passaram por Portugal em 2006, no Centro Cultural de Belém.
A lista de outras colaborações, em estúdios e em palcos, é infindável. Da pianista e harpista Alice Coltrane aos saxofonistas Stan Getz, Sonny Rollins, Paul Desmond, Cannonball Adderley, Benny Golson e Michael Brecker, passando pelos pianistas Herbie Hancock, Kenny Barron e McCoy Tyner, os trompetistas Chet Baker, Lester Bowie, Freddie Hubbard ou os guitarristas John Scofield, Pat Metheny, Bill Frisell ou John McLaughlin, ou mesmo uma canção de Sting.
Liderou formações como Compost, Directions, New Directions e Special Edition. Gravou em nome próprio pela primeira vez em 1968, um disco chamado The DeJohnette Complex, tendo, nas quase seis décadas que se seguiram, editado, como líder, quase quatro dezenas de álbuns por selos prestigiados como Prestige, ECM, Blue Note, MCA/Impulse!. Foi nomeado para seis Grammy e ganhou dois: um em 2008, com Peace Time, melhor álbum new age; e depois em 2022, com Skyline, melhor álbum de jazz instrumental que gravou com o contrabaixista Ron Carter e o pianista Gonzalo Rubalcaba.