Ao abordar uma proposta da Comissão Europeia que prevê usar, gradualmente, os ativos russos congelados para financiar o esforço de guerra ucraniano, Zelensky reforçou que a guerra e a necessidade de ajuda à Ucrânia deverá ser mais longa.
“Reforcei este ponto a todos os líderes europeus. Disse-lhe que não vamos lutar durante décadas, mas que devem mostrar que, por um certo período de tempo, serão capazes de fornecer apoio financeiro estável à Ucrânia”, declarou o presidente ucraniano numa conferência de imprensa, esta terça-feira. “E é por isso que têm esta proposta em mente — dois ou três anos”.
“A guerra pode acabar antes, mas o dinheiro será necessário para a reconstrução”, acrescentou.
De acordo com Zelensky, Kiev precisa de apoio “estável” e de longo prazo porque “não sabemos se Putin pode retomar a agressão ou não após o fim desta guerra”.
Já na semana passada, o presidente ucraniano reconheceu que o desbloqueio dos ativos congelados russos pela UE “é crucial” para a Ucrânia e mostrou-se confiante numa decisão política até ao final do ano.
“A decisão sobre os ativos russos congelados é crucial para nós”, afirmou Zelensky, na altura.
A Comissão Europeia propôs a mobilização de ativos russos congelados pelos europeus desde o início da invasão da Ucrânia para continuar a financiar Kiev como um “empréstimo de reparação”, que pode ascender a 140 mil milhões de euros. Mas a discussões no Conselho Europeu, na passada quinta-feira, terminaram num impasse devido às garantias exigidas pela Bélgica, o Estado-membro onde estão a maior parte dos bens russos congelados, e que não quer suportar todos os riscos legais e financeiros associados.
Zelensky espera que Trump pressione Xi Jinping
Na mesma conferência de imprensa divulgada esta manhã, Zelensky admitiu que espera que o presidente dos Estados Unidos pressione o líder da República Popular da China esta semana, durante a viagem oficial à Ásia que Donald Trump está a fazer, no sentido de reduzir o apoio de Pequim a Moscovo. Em concreto, o presidente ucraniano referiu-se às importações chinesas de hidrocarbonetos russos.
“Este pode ser um dos seus [de Trump] gestos fortes, especialmente se, após essas sanções decisivas, a China estiver pronta para reduzir as suas importações” da Rússia, disse Zelensky, referindo-se às sanções impostas na semana passada por Washington contra duas grandes empresas petrolíferas russas.
Donald Trump e Xi Jinping devem reunir-se na quinta-feira na Coreia do Sul à margem da cimeira da APEC (Cooperação Económica Ásia -Pacífico). E na semana passada, os Estados Unidos anunciaram sanções contra duas empresas petrolíferas russas.
Trump instou ainda os compradores de hidrocarbonetos russos, particularmente a República Popular da China e a Índia, a reduzirem as importações.
Sobre a situação militar no terreno, Zelensky disse que a cidade de Pokrovsk, no leste da Ucrânia, é o principal “alvo” da Rússia e onde se encontram 200 soldados russos, uma cidade que as forças russas tentam capturar há vários meses.
De acordo com um relatório das Nações Unidas, divulgado na segunda-feira, a Rússia cometeu mais um “crime contra a humanidade”, ao perseguir e forçar a população a fugir dos territórios que controla na Ucrânia com ataques continuados com drones contra civis.
A Comissão de Inquérito Internacional Independente da ONU sobre a Ucrânia também concluiu que a Federação Russa cometeu crimes de guerra, ao deportar e transferir civis das zonas ocupadas na região de Zaporizhzhia.
“As autoridades russas coordenaram sistematicamente ações para expulsar civis ucranianos da sua residência, com a realização de ataques com drones, bem como fazendo expulsões e transferências”, indicou-se no documento.