Paralelamente, Naroditsky construiu uma presença marcante nas redes sociais. Com quase 500 mil subscritores no YouTube e 340 mil seguidores na Twitch, o jogador transmitia partidas de xadrez em direto, explicava as estratégias e aproximava o xadrez de públicos menos experientes. Segundo Levy Rozman, conhecido como GothamChess, “ele existia no cruzamento perfeito entre jogar brilhantemente e explicar brilhantemente”.

Também a grande mestre Nemo Zhou, amiga próxima, afirmou ao Guardian que Naroditsky era “uma inspiração”, alguém que “fazia o xadrez divertido” e que, sem ele, provavelmente teria abandonado o jogo. Garry Kasparov, o russo considerado melhor jogador de xadrez do mundo até 1993, partilhou uma mensagem nas redes sociais: “A avalanche de amor pelo Daniel e o número incontável de testemunhos sobre o impacto da sua amizade, bondade e amor pelo xadrez, dizem mais sobre a magnitude deste perda terrível do que alguma vez eu conseguiria”.

No entanto, a carreira do norte-americano nos últimos meses esteve marcada por várias controvérsias e perseguição online. O ex-campeão mundial Vladimir Kramnik, também conhecido por acusar vários jogadores de recorrerem à tecnologia para escolher as melhores jogadas, acusou Naroditsky de batota, sem apresentar provas.

Naroditsky negou as acusações, mas reconheceu que tiveram um efeito profundo no seu bem-estar: “Desde o caso Kramnik, sinto que, se eu começar a jogar bem, as pessoas presumem que tenho as piores intenções”, disse durante o seu último direto no Twitch.

O impacto das acusações de Vladimir Kramnik gerou críticas generalizadas e circula a hipótese de que a pressão psicológica das acusações de Kramnik e do ambiente competitivo online possa ter agravado os problemas de saúde mental de Naroditsky.

Magnus Carlsen, cinco vezes campeão mundial, qualificou a conduta de Kramnik de “horrível” e o jovem grande mestre indiano Nihal Sarin, que jogou com Naroditsky na sua última partida online, acusou Kramnik de “tirar literalmente uma vida“, denunciando no The Indian Express que a campanha de acusações deixou o amigo “sob muito stress“.

A Federação Internacional de Xadrez (FIDE), através do seu CEO, Emil Sutovsky, anunciou que está a investigar a conduta de Kramnik, considerando que “a forma como Kramnik aborda isto simplesmente não pode ser aceite”.

Contudo, surgiram pedidos de renúncia depois de uma declaração de Sutovsky, que gerou revolta ao questionar se os amigos de Naroditsky tinham feito o suficiente para ajudá-lo enquanto ele ainda estava vivo: “Onde estavam todos quando Daniel estava vivo e doente?”, escreveu.

“Isto é absolutamente nojento. Tens o dever de proteger os teus jogadores de abusos. É claramente inapto para liderar a FIDE. És uma vergonha para o xadrez e para tudo o que ele deveria representar. Demite-te imediatamente”, escreveu na rede social X a jogadora Zhou. Também a streamer sueca Anna Cramling também criticou a situação, apelidando-a de “cyberbullying” e pediu que a FIDE garanta justiça.

Entretanto, Kramnik escreveu no X que “nunca fez qualquer ataque pessoal ou insulto” a Naroditsky, acrescentando que os esforços para o ligar à morte “ultrapassam todos os limites da moralidade humana básica”.

“Apesar das tensões na nossa relação, eu fui a única pessoa no mundo do xadrez que, apercebendo-me num vídeo dos óbvios problemas de saúde de Daniel, lhe pediu publicamente que recebesse ajuda. Infelizmente esse apelo foi ignorado por todos”, sublinhou o jogador russo.

No comunicado publicado, Kramnik acrescentou, ainda, que condena as “acusações flagrantemente falsas e criminais” contra si em relação à morte de Daniel e saúda o anúncio da abertura de uma investigação criminal nos Estados Unidos para apurar a causa da morte de Naroditsky.

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