O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta terça-feira ter ordenado “ataques poderosos” na Faixa de Gaza, acusando o movimento islamista Hamas de quebrar o cessar-fogo.
Testemunhas relataram entretanto vários ataques aéreos na Cidade de Gaza, com um míssil a cair atrás do Hospital Al-Shifa, perto de um dos edifícios principais que foi recuperado e que estava a funcionar de novo.
O ataque, diz o jornalista da Al Jazeera Hani Mahmoud, causou pânico entre pacientes do hospital – o repórter disse estar numa zona a cerca de 20 minutos de distância e ouviu a explosão.
O diário Haaretz diz que além desse ataque, a artilharia israelita terá atingido alvos em Deir al-Balah e Nuseirat, no centro do território.
A defesa civil disse que morreram pelo menos duas pessoas e quatro ficaram feridas em ataques num bairro na parte Sul da Cidade de Gaza.
Os ataques seguiram-se a um dia em que, segundo o Haaretz, o Hamas disparou tiros e um míssil antitanque contra militares israelitas que realizavam operações de engenharia perto da cidade de Rafah, no Sul da Faixa de Gaza. O Exército terá respondido com disparos de artilharia.
Esta não será a primeira vez em que acontece um incidente do género. No dia 19 de Outubro houve uma troca de disparos no terreno (não era claro se um ataque premeditado do Hamas, se combatentes a tentar sair de um local em que ficaram encurralados do lado ainda ocupado por Israel depois do cessar-fogo). Israel realizou depois ataques aéreos sobre o território, com os EUA a pressionar para uma resposta limitada.
No entanto, esta terça-feira o Hamas também entregou a Israel restos mortais do que disse ser um outro refém israelita, mas afinal tratava-se de partes de um corpo já antes recuperado.
Israel divulgou uma filmagem de um drone que parecia mostrar um corpo retirado de um edifício em Gaza e levado para uma campa e coberto com terra, com membros do Hamas a chamarem depois elementos da Cruz Vermelha e a levarem a cabo uma exumação: Israel acusa o movimento islamista de adiar a devolução de corpos de reféns propositadamente.
É uma acusação de Israel desde o início do cessar-fogo mas, até agora pelo menos, a Administração Trump fazia uma avaliação diferente, de que o movimento precisava de tempo e equipamento para localizar e retirar de escombros os corpos de reféns mortos.
Tem sido uma forte pressão dos EUA a impedir Israel de recomeçar os ataques contra a Faixa de Gaza. Se da última vez esta pressão foi suficiente para os ataques não significarem o fim do acordo de cessar-fogo, “os ataques que Netanyahu ordenou poderão acabar com ele”, avisou o jornalista do site Axios Barak Ravid.
O Hamas acusou, pelo seu lado, Israel de “forjar falsos pretextos falsos para lançar novas acções agressivas”.
A relatora especial da ONU para os territórios palestinianos ocupados, Francesca Albanese, disse pelo seu lado que Israel levou a cabo pelo menos 125 violações do cessar-fogo, matou pelo menos 100 pessoas, e deixou 350 feridas desde que o cessar-fogo entrou em vigor, no dia 10 de Outubro.
Há ainda relatos nos media israelitas de uma ideia de Israel tomar o controlo de mais território da Faixa de Gaza, mais do que os 58% que ainda ocupam, nos termos do acordo de cessar-fogo. A emissora pública Kan dizia que estava a haver contactos com a Administração dos EUA sobre esta possibilidade.