Após meses de tensões sobre o tema das tarifas comerciais, espera-se que Estados Unidos e China consigam finalmente encontrar na reunião de quinta-feira, entre os respectivos Presidentes, se não acordos concretos, pelo menos uma base de entendimento sobre temas estratégicos, como as terras raras, as importações de soja ou o TikTok, que redunde numa trégua entre as duas maiores potências mundiais.
Esta reunião entre os Presidentes Donald Trump e Xi Jinping na cidade sul-coreana de Busan segue-se a dias de negociações prévias entre as delegações dos dois países em Kuala Lumpur, na Malásia (onde Trump fez a primeira paragem nesta sua visita à Ásia), que fazem crer na possibilidade de sucesso.
Segundo a Reuters, os negociadores norte-americanos e chineses chegaram no domingo a um acordo para suspender temporariamente as tarifas mais elevadas impostas pelos Estados Unidos à China, por um lado, e os controlos chineses sobre as exportações de terras raras, por outro.
A notícia fez com que as acções asiáticas disparassem para níveis recorde e, em simultâneo, fez cair as acções das empresas de mineração de terras raras cotadas em Nova Iorque, ao aliviar os receios de escassez.
Li Chenggang, representante de comércio internacional da China no Ministério do Comércio e vice-ministro do Comércio, revelou na segunda-feira, em conferência de imprensa, que os dois países chegaram “a consensos básicos sobre como lidar adequadamente com várias questões económicas e comerciais importantes de interesse mútuo”.
Citado pela agência noticiosa Xinhua, Li Chenggang reconheceu que “as relações económicas e comerciais entre a China e os EUA passaram por algumas turbulências e flutuações, que chamaram a atenção do mundo” e que não são desejáveis.
Nas conversações em Kuala Lumpur, as delegações abordaram temas como “a extensão da suspensão de tarifas recíprocas, tarifas relacionadas com o fentanil, a cooperação antinarcóticos, a expansão do comércio e controlos de exportação”, revelou.
Também estiveram na mesa as preocupações norte-americanas com práticas consideradas anticoncorrenciais nos “sectores marítimo, logístico e de construção naval da China”.
Trump, que a seguir à Malásia visitou o Japão, assinou com a nova primeira-ministra nipónica, Sanae Takaichi, um acordo-quadro para que os dois países se apoiem mutuamente no fornecimento de minerais críticos e terras raras, tanto em bruto como processados, para combater a hegemonia chinesa, que processa 90% destes materiais fundamentais para a produção de smartphones, veículos eléctricos ou turbinas eólicas, por exemplo.
Mas o facto de a China manter o acesso de empresas norte-americanas a estes materiais fundamentais permite apaziguar, para já, um dos principais focos de tensão entre as duas grandes potências.
Outro tema importante nas relações bilaterais é a exportação de soja dos EUA para a China, que tem sido uma dor de cabeça para os agricultores norte-americanos, principalmente porque o seu maior cliente começou a virar-se para outros fornecedores, como o Brasil e a Argentina, em reacção às tarifas aduaneiras da Administração Trump.
Igualmente incontornável será o dossier TikTok. Quando deixou a Malásia em direcção ao Japão, o Presidente norte-americano disse a bordo do Air Force One que contava assinar com o homólogo chinês, na quinta-feira, o acordo que permitirá à rede social continuar a operar nos Estados Unidos.
O acordo está desenhado, segundo o secretário de Estado do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, mas tem de ser formalizado pelos dois Presidentes.
Avaliada em cerca de 14 mil milhões de dólares (cerca de 12 mil milhões de euros), esta operação orquestrada pela Casa Branca transfere a maioria do capital das operações norte-americanas do TikTok para investidores internacionais e norte-americanos, como Larry Ellison, da Oracle, que terão ainda direito à supervisão do algoritmo.
A chinesa ByteDance, empresa-mãe do TikTok, e outros investidores chineses ficariam com menos de 20% do capital.
O New York Times escreve que o líder chinês parte para esta reunião com uma agenda que não se esgota nos temas económicos. Segundo analistas ouvidos pelo jornal, as autoridades chinesas poderão procurar levar Trump a pronunciar-se sobre o assunto de Taiwan, para que o chefe de Estado norte-americano esclareça a sua posição sobre a soberania da ilha.
Xi provavelmente pretenderá que Trump declare claramente que não apoia a independência de Taiwan. A questão crucial, escreve o NYT, está em saber até que ponto o apoio norte-americano a Taiwan é negociável, tendo em conta “os comentários por vezes desdenhosos” do Presidente dos EUA sobre a ilha.