Face à crescente onda de restaurantes tradicionais a fechar naquela zona, Elsa afirma que, “graças a Deus”, o Bonjardim já tem um nome marcado na cidade graças ao trabalho dos últimos 75 anos mas que, ao longo deste tempo, houve altos e baixos, principalmente durante “os nitrofuranos, a gripe das aves e a pandemia”: “As pessoas viraram-nos as costas”, afirma Elsa. No entanto, lamenta ainda que “quando há um restaurante que tem qualidade e fecha aí dói”. “Eu acho que não temos medo. Acho que sempre fomos diferentes, nós nunca procurámos os clientes, os clientes é que nos procuram a nós. E nós, com este boom de turismo, temos aproveitado”, acrescenta Inês, sustentada ainda por Elsa que revela que nunca foi feita publicidade ao Bonjardim: “O meu pai dizia sempre: ‘A publicidade tem de ser feita pelo próprio cliente’. E funcionou”. Essa é agora também sentida através da internet. Sem redes sociais para o negócio, as duas explicam que muitas vezes são os próprios clientes que fazem publicações sobre o restaurante, através de fotografias e vídeos.

“Há uns anos os The Killers vieram tocar no Rock In Rio e há uma jornalista que entrevista o vocalista a perguntar sobre Lisboa e às tantas ele diz: ‘Mas não me pergunta onde é que eu fui jantar? No restaurante Bonjardim, o melhor frango assado’. Era toda a gente a bombardear-nos com a dita entrevista”, recorda Inês, notando que “toda a gente tem vindo aqui” e que não há distinção “entre o mais simples trabalhador e a mais alta patente”. Mais recentemente, essa alta patente de que falam marcou também presença no Rei dos Frangos: “Nós não fazemos reservas e de repente tivemos um telefonema de um cliente que queria uma reserva para duas pessoas e o empregado disse que nós não fazemos reservas. ‘Mas neste caso vai ter de fazer porque é para uma alta patente norte-americana’, responderam, do outro lado. O bom do empregado é que teve bom senso e disse ‘sim senhor’. Então, marcámos”, começa por contar Elsa. Foi pouco antes da hora marcada que ao Bonjardim chegaram dois seguranças que ficariam depois a vigiar a mesa do ex-secretário de estado dos EUA John Kerry e da respetiva secretária: “Ela falava um bocadinho de português então disse que queriam o frango assado, o esparregado, tinham tudo estudado. Uma coisa que achamos imensa piada foi o vinho. Pediu o Papa Figos. Até o nome sabia”.

A existência do Bonjardim é assim pouco ou nada discreta — apesar da rua escondida. Estão abertos todos os dias das 12h00 às 23h00 durante todo ano sem fechar entre o almoço e o jantar. Só o Natal é exceção: a véspera dá folga depois das 15h00 mas no 25 já cá está toda a gente de novo. “É a loucura, muitas famílias”, descreve Elsa. É assim que, para os clientes, cá vão estando e quiseram também celebrar os 75 anos do Bonjardim com eles: “Convidámos um casal que é nosso amigo mas que vem cá desde há anos e ao domingo traz a família e amigos e convidámos também outro rapaz que trabalha aqui perto e traz os amigos todos do escritório para almoçar”, explica.