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Antes visto como um génio estratégico implacável, a invasão em larga escala da Ucrânia por Putin – que está muito longe dos objetivos propostos pelo Kremlin – expôs uma longa lista de erros de cálculo, indicou Joni Aksola, ao jornal ucraniano ‘Kyiv Post’. Segundo o analista geopolítico finlandês e apoiante da Ucrânia, esses erros definirão o seu legado – e acelerarão o declínio da Rússia. Então, quais foram os ‘pecados capitais’ do presidente russo?

Erro nº 1: Lançar a guerra

Putin exagerou. A Rússia não consegue atingir seus objetivos estratégicos na Ucrânia. A guerra esgotou a Rússia militar, económica e diplomaticamente. Era uma guerra que jamais conseguiria vencer.

Erro nº 2: Subestimar a Ucrânia

Putin interpretou completamente mal a vontade de lutar da Ucrânia. Esperava o colapso. Em vez disso, a Ucrânia unificou-se, resistiu e conquistou apoio global. Um erro de cálculo catastrófico.

Erro nº 3: Invadir com uma força muito pequena

Tentou chocar a Ucrânia e levá-la à rendição com uma força limitada. Não conseguiu. A Ucrânia não se curvou – reagiu com mais força. A Rússia não tinha efetivos suficientes para alcançar uma vitória rápida.

Erro nº 4: Esperar 8 anos para que a guerra se transformasse numa guerra em grande escala

Se Putin queria uma guerra em larga escala, 2014-2015 foi a sua janela de oportunidade. A Ucrânia estava mais dividida e menos preparada. Em 2022, estava mais forte, mais unida e pronta para lutar.

Erro nº 5: Tornar a guerra existencial

Putin enquadrou a guerra como uma luta pela sobrevivência da Rússia. Isso é perigoso quando não se está a vencer. Não deixa espaço para recuo — e aumenta o custo do fracasso.

Erro nº 6: Transformá-la numa guerra genocida

Ao negar o direito da Ucrânia de existir e usar uma retórica genocida, Putin garantiu uma resistência feroz e um apoio ocidental duradouro à Ucrânia. O tiro saiu pela culatra.

Erro nº 7: Deixar centenas de bilhões em dinheiro e ativos no exterior

A Rússia mantinha reservas maciças em bancos ocidentais – e perdeu o acesso a elas. Mais de 300 mil milhões de euros em ativos de bancos centrais foram congelados após a invasão. Uma ferida auto-infligida impressionante numa guerra que exige financiamento de longo prazo.

Erro nº 8: Sacrificar a influência global

Ao investir tudo na Ucrânia, Putin deixou aliados como Arménia, Síria e outros expostos. O ‘soft power’ da Rússia entrou em colapso. Até mesmo China e Índia mantêm distância.

Erro nº 9: Confiar nos Wagner e Prigozhin

O grupo paramilitar Wagner ajudou desde o início, mas o motim de 2023 humilhou Putin e expôs fragilidades no seu controlo: empoderar senhores da guerra sempre tem um preço.

Erro nº 10: Unir e expandir a NATO

Putin queria enfraquecer a NATO. Em vez disso, deu-lhe nova vida. A Finlândia e Suécia aderiram. Os orçamentos de Defesa dispararam na aliança militar. A fronteira da Rússia com a NATO ficou muito mais longa.

Segundo o especialista geopolítico, o legado de Putin não será o brilhantismo estratégico – será o exagero. Lançou uma guerra que não pode vencer, avaliou mal a Ucrânia e enfraqueceu a Rússia. Como muitos ditadores antes dele, acreditou no seu próprio mito. Esse será o seu legado.