Um coronavírus com uma característica genética encontrada nos vírus que causam a Covid-19 e a MERS foi descoberto em morcegos no Brasil, ampliando o alcance global conhecido de vírus transmitidos por morcegos capazes de infectar outras espécies.
O vírus, denominado BRZ batCoV, foi detectado em Pteronotus parnellii — um pequeno morcego insetívoro, também conhecido como morcego bigodudo de Parnell, comum na América Latina. As amostras foram coletadas nos estados do Maranhão e São Paulo.
O estudo, divulgado na segunda-feira como um preprint antes da revisão por pares e publicação, mostra que o vírus pertence à família dos betacoronavírus, que inclui o SARS-CoV-2, o MERS-CoV e o vírus SARS original.
Morcego bigodudo de Parnell (Pteronotus parnellii) — Foto: Wikimedia Commons
O sequenciamento genético revelou um pequeno trecho da proteína spike do vírus que pode ser quebrado por enzimas em células animais e humanas — uma característica que ajuda alguns coronavírus a entrarem nessas células com mais facilidade.
Essa característica não havia sido relatada anteriormente em coronavírus de morcegos das Américas, sugerindo que elas podem ter evoluído independentemente em populações de morcegos sul-americanos.
A descoberta é notável porque essa característica na proteína spike do SARS-CoV-2 tornou-se alvo de controvérsia durante a pandemia, quando alguns alegaram ser evidência de manipulação em laboratório.
Pesquisas subsequentes mostraram que essas características ocorrem naturalmente em vários outros coronavírus — incluindo esta cepa brasileira recém-descoberta —, indicando que elas podem surgir por meio da evolução viral comum.
A pesquisa, liderada por Kosuke Takada e Tokiko Watanabe, da Universidade de Osaka, com colaboradores da Universidade de São Paulo, da Universidade de Madison-Wisconsin e de outros laboratórios internacionais, descobriu que o vírus é relacionado a coronavírus semelhantes ao MERS, mas suficientemente distinto para formar sua própria linhagem.
Vírus relacionados foram identificados em morcegos na Ásia, África e Oriente Médio, mas não no Hemisfério Ocidental até agora.
Não há evidências de que o vírus recém-descoberto infecte humanos. A descoberta ressalta a importância de programas de vigilância da vida selvagem que rastreiam a diversidade de coronavírus antes que eles tenham a chance de infectar humanos.