Desde essa altura, a Rússia tem intensificado a presença militar. Inicialmente, no final de dezembro, os russos usaram (e remodelaram) a base aérea de Maaten al-Sarra, localizada no meio do deserto do Saara, perto da fronteira entre a Líbia e o Chade. E isso já demonstrava que a Rússia estava a “reposicionar as suas peças de xadrez em África” depois da queda de Bashar al-Assad.
Em declarações à imprensa internacional, Anas El Gomati explicou que a Rússia, ao mesmo tempo que “perdia as bases aéreas sírias”, estava a incrementar a presença em Maaten al-Sarra, criando uma “nova rede de influência que ia desde o Mediterrâneo até África”. A partir daquela base no meio do deserto, Moscovo conseguia realizar voos para entregar armas a outros aliados africanos ou mercenários russos em países, como o Burquina-Faso, o Chade, o Mali ou o Sudão.
Mais recentemente, no final de junho, uma investigação feita pela rádio francesa RFI, com base em imagens de satélite, revelou que a Rússia está também a utilizar a base aérea de Al-Khadim, no nordeste da Líbia. Naquela infraestrutura, Moscovo tem armazenado equipamentos militares oriundos da Síria — que são depois vendidos a outros países africanos. Seria uma espécie de hub russo em África.
????????| The Maaten al-Sarra base in Lybia continues to expand. Since March, the infraestructure development alongside the main runway has been significant. pic.twitter.com/AdFKtcTgZS
— Iván (@FpAnalisis) June 14, 2025
Militarmente, a italiana Agenza Nova noticiou que a Rússia estaria mesmo a ponderar instalar sistemas de mísseis noutra base aérea em Sebha, no meio da Líbia. Moscovo queria instalar mísseis apontados diretamente para a Europa. Contudo, essa hipótese causa dúvidas entre muitos analistas ouvidos pelo Politico, que apontam mais para um uso logístico destas infraestruturas.
Em termos estratégicos para a Europa, o que mais preocupa é, no entanto, a base naval de Tobruk, uma cidade localizada no leste da Líbia, a cerca de 175 quilómetros do Egito. No final de dezembro de 2024, o ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto, já tinha deixado o aviso de que “Moscovo estava a transferir recursos da base naval síria de Tartus para a Líbia”. “Isto não é uma coisa boa. Os navios e submarinos russos no Mediterrâneo são sempre uma preocupação, ainda mais se estão a mil quilómetros de distância e a dois passos de nós.”
A Rússia tem mostrado interesse em manter ou mesmo aumentar a presença militar no Mar Mediterrâneo. Em declarações ao Observador, Basil Germond, professor de Segurança Internacional na Universidade de Lancaster, analisa que com “a perda do controlo da base naval de Tartus na Síria, a presença no Mediterrâneo e por extensão no Médio Oriente e África fica prejudicada”.