As Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla original), grupo paramilitar do Sudão, mataram 460 doentes num hospital sudanês no último fim-de-semana, 25 e 26 de Outubro, durante um ataque que culminou na tomada da cidade de El-Fasher, na província de Darfur, por parte das RSF, avançou o The Washington Post esta quarta-feira.

A Rede de Médicos do Sudão, grupo que monitoriza a guerra civil que dura desde 2023, afirmou que as RSF mataram “a sangue-frio, todas as pessoas que encontraram dentro do Hospital Saudita”.

Quem conseguiu escapar relatou assassinatos indiscriminados com motivações étnicas e políticas, incluindo casos de pessoas com deficiência abatidas por não conseguirem fugir, outras foram mortas a tiro enquanto tentavam escapar, avançou a coordenadora da agência da ONU para os refugiados (UNHCR, na sigla original), Jacqueline Wilma Parlevliet, citada pela ABC News.

O líder dos paramilitares sudaneses, o general Mohamed Daglo, reconheceu uma “catástrofe” em El-Fasher, cidade-chave do Darfur.

“Habitantes de El-Fasher, lamentamos a catástrofe que vos aconteceu (…) mas a guerra foi-nos imposta”, declarou Dgalo num discurso transmitido no seu canal Telegram, acrescentando: “Exigimos que todos aqueles que cometeram erros prestem contas”. Dgalo afirmou, sem entrar em detalhes, que “comissões de inquérito” chegaram ao local.

A UNHCR estima que cerca de 35 mil pessoas fugiram da cidade desde o último domingo. Testemunhas relataram à Associated Press que os combatentes das RSF — a pé, montados em camelos ou em veículos — iam de casa em casa, disparando sobre os civis, incluindo mulheres e crianças.

“Parecia um campo de extermínio”, disse Tajal-Rahman, um homem com cerca de 50 anos, que testemunhou os ataques em El-Fasher e conseguiu fugir da região. “Corpos por todo o lado, pessoas a sangrar e ninguém para as ajudar.”

O director da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse estar “horrorizado” pelos relatos que chegaram de trabalhadores humanitários e residentes que conseguiram escapar ao massacre.

A OMS diz ter registado 185 ataques a infra-estruturas de saúde no Sudão, que fizeram 1204 mortos e 416 feridos, desde Abril de 2023. “Mais de 2000 civis foram mortos durante a invasão de El-Fasher”, afirmou a responsável para a ajuda humanitária do governo sudanês, Mona Nour Al-Daem, citada pela France 24. O número total de mortos ainda não foi confirmado por outras fontes internacionais.

A União Europeia denunciou igualmente a “brutalidade” das RSF e o alvo “étnico” de civis. Também a Cruz Vermelha se declarou “profundamente chocada com as crescentes informações da comunicação social, fontes públicas e testemunhos directos sobre as atrocidades horríveis e o imenso sofrimento” infligido aos habitantes de El-Fasher.


O exército do Sudão controla a maior parte do Norte e Leste do país, depois de ter reconquistado Cartum em Março de 2025. Com a conquista de El-Fasher, as RSF controlam agora as cinco capitais regionais de Darfur, no oeste do país, enquanto os combates continuam na região sul de Kordofan.