
Por Rede Américas e Estadão Blue Studio
30/10/2025 | 08h00
Apesar dos avanços no diagnóstico e no tratamento do câncer, muitas pessoas ainda descobrem a doença em estágios avançados. No Brasil, mais de 70% dos casos de tumor de mama, por exemplo, ainda são diagnosticados tardiamente, segundo a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femana)¹. O dado ajuda a explicar por que a doença segue sendo a principal causa de morte por neoplastia entre mulheres no País. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), são 74,4 mil novos casos estimados por ano para o triênio 2023–2025, com 66,5 casos a cada 100 mil mulheres².
Para a oncologista Renata Arakelian, dos hospitais Nove de Julho e Santa Paula, que fazem parte da Rede Américas, o atraso no diagnóstico está ligado não apenas ao acesso a exames, mas também à falta de informação qualificada. “É fundamental que todos conheçam quais cânceres têm rastreamento comprovadamente eficaz. O diagnóstico precoce aumenta muito as chances de cura”, diz. Ela lembra que os tumores de mama, colo do útero e intestino têm protocolos bem definidos de rastreamento e defende que médicos de atenção primária sejam aliados nesse processo.
Renata Arakelian, oncologista dos hospitais Santa Paula e Nove de Julho, da Rede Américas, durante painel do Estadão Summit Saúde 2025 Foto: Vinicius Davis/Estadão
A especialista ressalta que a mamografia deve começar aos 40 anos — idade recentemente adotada também no Sistema Único de Saúde (SUS) — e que a colonoscopia é indicada a partir dos 45 anos para pessoas sem histórico familiar da doença. “Conhecer o próprio corpo e manter hábitos saudáveis são medidas que complementam os exames e ajudam na detecção precoce”, reforça.
Em um sistema de saúde frequentemente marcado pela fragmentação, a integração entre diagnóstico, tratamento e acompanhamento é vista como um caminho para reduzir perdas e melhorar resultados. “Quando o paciente precisa circular por diferentes serviços, há risco de atraso e até de perda de informação”, afirma Carlos Loja, diretor médico da Rede Américas. “Um cuidado contínuo, com equipes que se comunicam, faz diferença no desfecho”, completa.
A instituição, segunda maior rede de hospitais do Brasil — resultado da joint venture entre Dasa e Amil —, reúne 27 hospitais e 42 unidades oncológicas em oito estados e no Distrito Federal, aposta em em equipes multidiciplinares — formadas por médicos, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos e fisioterapeutas — e em profissionais conhecidos como enfermeiros-navegadores, que acompanham o paciente em todos os momentos da jornada. “Esses profissionais orientam e agilizam cada etapa, garantindo que o tratamento ocorra no tempo certo”, explica Loja.
Os avanços tecnológicos também têm ampliado a precisão dos diagnósticos. A Rede Américas, por exemplo, utiliza recursos de inteligência artificial para analisar exames de imagem, patologia digital e testes genéticos, em parceria com a Dasa. “A tecnologia ajuda a acelerar o diagnóstico e a comparar amostras, o que traz mais segurança e assertividade às decisões médicas”, diz Loja.
Para Renata, tecnologia e acolhimento precisam caminhar juntos. “O diagnóstico de câncer muda a vida de uma pessoa. Por isso, o cuidado deve considerar também os aspectos emocionais e sociais do paciente”, afirma. Grupos de dor, psicologia clínica e terapias complementares integram o suporte oferecido.
A médica alerta ainda para os riscos da desinformação em temas de saúde. “Vivemos um paradoxo: nunca houve tanto acesso à informação e, ao mesmo tempo, tanta desinformação. É essencial buscar fontes confiáveis, como sociedades médicas e instituições reconhecidas”, reforça.
A participação da Rede Américas no Summit Saúde, promovido pelo Estadão, reforçou o debate sobre os caminhos para ampliar o rastreamento e a integração no cuidado oncológico. “Eventos assim ajudam a difundir conhecimento e estimulam o diálogo entre profissionais, pacientes e gestores”, avalia Loja.
Para os especialistas, a combinação de ciência, tecnologia e empatia é o que deve guiar o futuro da oncologia no Brasil, um campo em que cada minuto conta. “Cada pessoa precisa conhecer o próprio corpo e procurar orientação médica ao notar qualquer alteração. A informação é uma aliada poderosa, e o diagnóstico precoce continua sendo a nossa maior arma contra o câncer”, conclui Renata.
¹Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femana). Por que mais de 70% dos casos de câncer de mama no Brasil são diagnosticados em estágio avançado. Publicação da FEMAMA, 2019. Disponível em: https://femama.org.br/site/noticias-recentes/por-que-mais-de-70-dos-casos-de-cancer-de-mama-no-brasil-sao-diagnosticados-em-estagio-avancado/ . Acesso em outubro de 2025.
²Instituto Nacional de Câncer (Inca). Estimativa de Incidência de Câncer no Brasil, 2023-2025. Ministério da Saúde, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/numeros/estimativa/sintese-de-resultados-e-comentarios . Acesso em outubro de 2025.