Líderes das maiores economias do mundo sentaram-se frente a frente e foi “incrível”, diz Trump – que anunciou que vai baixar as tarifas que impôs à China. Mas há dois temas delicados – incluindo um potencial conflito militar – que ficaram de fora da agenda, isto num dia em que se soube que Trump ordenou o início de testes de armas nucleares dos Estados Unidos
Donald Trump e Xi Jinping não se encontravam cara a cara desde 2019: de lá até hoje um país na Europa foi invadido em grande escala pela Rússia, Taiwan complicou-se, surgiram tarifas aduaneiras, o fenómeno da IA explodiu, Israel foi atacado pelo Hamas e a seguir Israel atacou Gaza, o Facebook e o Instagram perderam espaço para o TikTok, Trump perdeu para Biden e depois ganhou a Kamala, o Capitólio foi atacado, o mundo teve uma pandemia de covid, Trump começou uma guerra de tarifas e o Benfica bateu o recorde de votantes numas eleições para um clube de futebol. O mundo mudou muito em seis anos e Ronaldo continuar a jogar e a marcar é das poucas coisas que continuam iguais. Por isso: Trump e Xi tinham muito para pôr em dia, encontraram-se cara a cara na Coreia do Sul e foi isto que aconteceu:
De 0 a 10? 12!
As palavras são do próprio presidente dos EUA. Após a reunião, Donald Trump disse, citado pela Reuters, que “numa escala de 0 a 10 o encontro com Xi Jinping foi um 12”. O presidente dos EUA afirmou que “a reunião com Xi foi incrível” e que “muitas decisões foram tomadas”.
Por sua vez, Xi Jinping realçou que “a conversação é melhor do que confrontação” e que as antigas vias de comunicação entre os dois países devem manter-se ativas. De acordo com a agência estatal chinesa, Xi realçou a importância das relações entre EUA e China continuarem estáveis, lembrando que as duas superpotências devem ter uma atitude positiva tanto no palco regional como internacional.
“Os dois lados devem continuar a encurtar a lista de problemas e a prolongar a lista de cooperação”, disse Xi.
O presidente dos Estados Unidos vai visitar a China no próximo ano, anunciou esta quinta-feira um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, após conversações entre Trump e o presidente Xi Jinping na Coreia do Sul, diz Reuters.
Trump já tinha indicado anteriormente que pretendia deslocar-se à China em abril de 2026.
Trump corta tarifas
Era esperado que um dos grandes temas da reunião entre Trump e Xi fosse a atual guerra comercial. Terminado o encontro, Trump disse que as tarifas aduaneiras impostas por Washington a Pequim vão cair dez pontos percentuais, de 57% para 47%, noticiou a Reuters.
Depois do encontro entre Xi e Trump, o Ministério do Comércio da China também reagiu e anunciou que vai reajustar algumas das contramedidas às tarifas de Trump. A suspensão da construção de navios contra os EUA também será suspensa por um ano.
A China e os Estados Unidos acordaram prorrogar por mais um ano a trégua comercial temporária, no seguimento do entendimento alcançado após uma reunião entre altos responsáveis económicos dos dois países, realizada na semana passada na Malásia.
Segundo o Ministério do Comércio chinês, citado pela Reuters, a China vai suspender por um ano as medidas de controlo de exportações dirigidas aos EUA, anunciadas a 9 de outubro, bem como outras restrições ligadas ao transporte marítimo, logo que entre em vigor a suspensão equivalente por parte de Washington.
Xi Jinping acrescentou ainda que a economia internacional e as trocas com os EUA vão ser um propulsor para a China, referindo que os dois lados devem olhar para os interesses a longo prazo desta cooperação.
O presidente chinês disse que a economia chinesa é como um oceano. A agência estatal da China noticia ainda que Xi descreveu o país como “confiante e capaz de superar todos os tipos de riscos e desafios”.
Terras raras » IA
Sem terras raras não há chips, sem chips não há capacidade de processamento e sem processamento não há desenvolvimento computacional como a inteligência artificial (IA). A China tem as terras raras que os EUA precisam e Trump sabe-o. Este terá sido um dos argumentos chineses para fazer baixar as tarifas aduaneiras.
De acordo com Washington, Xi Jinping prometeu que a China vai manter aberto para os EUA o fluxo de terras raras, minerais críticos e ímanes.
De acordo com o Ministério do Comércio da China, ambos os países veem boas perspetivas de cooperação na área da IA.
Travar o fentanil
O fentanil está a transformar-se numa espécie de epidemia nos EUA. Este opioide sintético é 50 vezes mais potente que a heroína, 100 vezes mais eficaz do que a morfina e tem cada vez mais consumidores recreativos no país. Os dados demonstram que, em média, morrem 100 mil norte-americanos com overdoses por ano, sendo que cerca de 70% dos casos envolvem fentanil.
Grande parte desta droga é fabricada na China. Após a reunião, Donald Trump afirmou que Pequim vai trabalhar para parar o fluxo de fentaniil que entra em solo norte-americano. A China também reconheceu que foi alcançado consenso em matérias como o combate ao fentanil e o alargamento do comércio de produtos agrícolas.
China vai começar a importar energia dos EUA
Trump revelou que a China vai dar início ao processo para comprar energia norte-americana. O presidente dos EUA adianta que vai haver uma transação de larga escala de petróleo e gás do Alasca para Pequim.
O presidente norte-americano afirmou ainda à Reuters estar “extremamente honrado” com o facto de Xi Jinping ter autorizado Pequim a começar a comprar quantidades elevadas de rebentos de soja e sorgo, bem como outros produtos agrícolas.
Se a Rússia faz, os EUA também fazer
Da Rússia pouco ou nada se falou. Donald Trump apenas assegurou que está a falar com Moscovo sobre armamento nuclear, garantindo que “gostaria de ver uma desnuclearização”. Apesar disso, perante as recentes demonstrações russas de poderio nuclear, Trump diz que que é importante que os EUA também avancem para demonstrações similares – e foi isso mesmo que ordenou, soube-se esta quinta-feira.
Os locais para os testes nucleares norte-americanos serão determinados posteriormente.
Por sua vez, a China espera que os Estados Unidos cumpram o compromisso de manter a moratória sobre testes nucleares e respeitem as obrigações previstas no Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares.
Em resposta a perguntas sobre a possibilidade de o presidente norte-americano retomar os testes com armas nucleares, o porta-voz do governo chinês Guo Jiakun, declarou que Pequim espera que Washington contribua para preservar o equilíbrio e a estabilidade estratégica global.
Kim Jong-Un: a agenda não deu
Depois do encontro com Xi Jinping, Donald Trump justificou que só não se reuniu também com Kim Jong-un, presidente da Coreia do Norte, porque esteve muito ocupado, noticia a Reuters. O presidente dos EUA assegura que vai voltar à Ásia para falar com Kim Jong-un.
O presidente norte-americano esclareceu que não se reuniu com o homólogo norte-coreano por incompatibilidades de agenda. Essa declaração foi feita ainda antes do encontro com Xi.
“Conheço muito bem Kim Jong-un. Damo-nos muito bem. Realmente não vai dar para um encontro desta vez. O presidente Xi chega esta quinta-feira e isso é muito importante para o mundo, para todos nós”, afirmou Trump durante um almoço com o homólogo sul-coreano, Lee Jae-myung, na cidade de Gyeongjiyu, na quarta-feira.
TikTok por ver
EUA e China comprometeram-se também a resolver de forma adequada as questões relacionadas com o TikTok, acrescentou o ministério.
A China diz ainda que vai tratar de forma adequada a questão do TikTok e os problemas que a empresa está a criar nos EUA.
Os dois tabus – incluindo um que pode levar a uma guerra
Donald Trump garantiu que não houve qualquer troca de palavras sobre o novo e avançado chip de inteligência artificial Blackwell, da Nvidia, durante as conversações com o presidente chinês.
Na véspera do encontro, a caminho da Coreia do Sul, Trump tinha admitido que podia abordar o tema com o líder chinês. Entretanto a Nvidia tornou-se a primeira empresa mundial a ser avaliada em cinco biliões de dólares.
Por fim, o maior foco de tensão entre os dois países: ficou a 0 o tema Taiwan, não se falou sobre ele. E não é um tema qualquer, é um tema que se teme que possa levar a uma escalada militar entre China e EUA – e se houver guerra em Taiwan entre a China e os EUA, há um relatório polémico diz que os EUA ganham.
Após a reunião entre Trump e Xi, Washington, DC, apressou-se a dizer que o tema Taiwan não foi discutido entre os presidentes. Do lado chinês, Xi destacou – após a reunião – que Pequim não quer desafiar ou suplantar qualquer outro país e que está meramente focada em fazer os seus negócios.