Arranca esta quinta-feira, 30 de outubro, a 9.ª edição do ‘CAPITI Art Mind’ no MAAT Central. A exposição e leilão solidário junta a arte contemporânea à saúde mental infantil e juvenil.

O ‘CAPITI Art Mind’ reúne 35 a 40 obras doadas por artistas nacionais. Os fundos angariados revertem a 100% para consultas médicas e psicológicas de crianças e jovens de famílias vulneráveis. Um apoio que para muitos é a única forma de conseguirem acesso a acompanhamento clínico especializado, que fará a diferença no futuro de cada um.

A propósito do arranque da iniciativa, o Notícias ao Minuto conversou com Maísa Champalimaud. A neta do empresário António Champalimaud participa pela terceira vez na exposição, que tem, na sua opinião, um propósito “mágico”.

Cuidar da saúde mental desde cedo é tão essencial como alimentar o corpoDe que forma pode a arte unir-se à saúde mental infantil e juvenil, como propõe esta exposição?

A arte é uma das formas mais puras de comunicação e de cura. Permite que emoções difíceis de dizer se tornem visíveis, compreensíveis e, muitas vezes, transformadoras. Quando a arte se cruza com a saúde mental infantil, o resultado é mágico, dá às crianças e aos jovens uma linguagem para se expressarem e dá-nos a nós, adultos, uma forma de os escutarmos melhor.

A causa da saúde mental infantil é-lhe particularmente familiar?

Sim, completamente. Enquanto mãe, mulher e artista, é impossível não me tocar por esta causa. Acredito que cuidar da saúde mental desde cedo é tão essencial como alimentar o corpo. Uma criança ou jovem que recebe apoio emocional a tempo ganha ferramentas para toda a vida, para criar, para pensar, para ser livre.

Na edição de 2022 teve oportunidade de criar juntamente com uma criança. Este momento foi especial para si?

Foi um dos momentos mais bonitos. As crianças têm uma liberdade criativa que nós, adultos, às vezes perdemos. Trabalhar lado a lado com uma criança foi como regressar à essência do ato de pintar: o prazer puro de criar sem medo do erro. Foi uma verdadeira lição de autenticidade.

Iniciativas como esta conseguem despertar nos jovens o interesse pela arte?

Sem dúvida. Quando os jovens percebem que a arte tem impacto real, que pode mudar vidas, que pode cuidar, incluir, transformar, o interesse surge. A arte deixa de ser algo distante, ‘de museu’, e passa a ser uma ferramenta de expressão e empatia. Esse é o maior legado de projetos como o CAPITI Art Mind.

Esta é já a terceira vez que participa no leilão. O que a faz continuar a aceitar fazer parte da iniciativa?

Acredito profundamente que a arte tem um papel social. Volto sempre porque sei que cada pincelada pode traduzir-se num gesto concreto de ajuda. Há causas que falam mais alto e esta é uma delas. É uma forma de contribuir com o que sei fazer melhor: criar.

Acredito que o país está a evoluir e que viver da arte é, acima de tudo, viver com propósitoA sua obra é inspirada em Simone de Beauvoir. Qual a razão da sua escolha?

Simone de Beauvoir representa para mim a força do pensamento e o poder transformador da leitura. Quis homenagear essa ideia de liberdade intelectual e emocional. A leitura, tal como a arte, liberta e acredito que esse é o maior presente que podemos dar a uma mente jovem.

É possível, no panorama português, viver da arte plástica?

É um caminho desafiante, mas possível, sobretudo quando se vive com paixão e persistência. Portugal tem um enorme talento e cada vez mais reconhecimento internacional, mas ainda falta criar uma cultura mais consistente de valorização artística. Continuo a acreditar que, passo a passo, o país está a evoluir e que viver da arte é, acima de tudo, viver com propósito.

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