
O mico-leão-dourado, uma espécie quase extinta, vive na Mata Atlântica do Brasil, a milhares de quilómetros da Amazónia
Segundo um estudo que analisou 500 anos de dados, as taxas de extinção não estão a aumentar vertiginosamente, como muitos acreditam. Os investigadores descobriram que a perda de espécies atingiu o pico há cerca de um século, diminuiu desde então, e não está relacionada com as alterações climáticas.
Importantes estudos conduzidos nas últimas décadas sugerem que o nosso planeta está a atravessar outra extinção em massa, com base na extrapolação para o futuro das extinções verificadas dos últimos 500 anos, e na ideia de que as taxas de extinção estão a acelerar rapidamente.
No entanto, um novo estudo, conduzido por investigadores da Universidade do Arizona, revela que as extinções de espécies de plantas, artrópodes e vertebrados terrestres registadas ao longo dos últimos 500 anos atingiram o pico há cerca de 100 anos — e têm vindo a diminuir desde então.
No novo estudo, os investigadores descobriram também que a maior parte das extinções que fundamentam estas previsões foram causadas principalmente por espécies invasoras em ilhas, e não constituem a ameaça actual mais importante, que é a destruição de habitats naturais.
Segundo os autores do estudo, recentemente publicado na Proceedings of the Royal Society of London, as alegações de uma extinção em massa actual podem assentar em pressupostos frágeis, ao projetar dados de extinções passadas para o futuro, ignorando diferenças nos fatores que impulsionam extinções no passado, no presente e no futuro.
O estudo, conduzido por Kristen Saban e John Wiens, é o primeiro a analisar taxas, padrões e causas de extinções recentes em espécies vegetais e animais. Na sua pesquisa, os dois investigadores analisaram estas taxas especificamente em 912 espécies de plantas e animais que se extinguiram ao longo dos últimos 500 anos. No total, dados de quase 2 milhões de espécies foram incluídos na análise.
“Descobrimos que as causas dessas extinções recentes eram muito diferentes das ameaças que as espécies enfrentam atualmente”, afirma Wiens em comunicado da U.Arizona.
“Isto torna problemático extrapolar estes padrões de extinção passados para o futuro, porque os fatores impulsionadores estão a mudar rapidamente, em particular no que respeita à perda de habitat e às alterações climáticas“, acrescenta o investigador.
Segundo Saban e Wiens, a informação mais direta sobre perdas de espécies provém de extinções recentes ao longo dos últimos cinco séculos. Contudo, estudos que extrapolam estes padrões para o futuro assumem geralmente que extinções recentes permitem prever o risco actual de extinção e são homogéneas entre grupos, ao longo do tempo e entre ambientes.
“Para nossa surpresa, extinções passadas são formas fracas e pouco fiáveis de prever o risco actual que qualquer grupo específico de animais ou plantas enfrenta”, diz Saban.
As taxas de extinção variaram fortemente entre grupos, e as extinções foram mais frequentes entre moluscos, como caracóis e mexilhões, e vertebrados, mas relativamente raras entre plantas e artrópodes.
A maioria das extinções ocorreu em espécies confinadas a ilhas isoladas, como as Ilhas do Havai. Nos continentes, a maioria das extinções verificou-se em habitats de água doce.
As extinções registadas em ambientes insulares estiveram mais frequentemente relacionadas com espécies invasoras, mas a perda de habitat foi a causa mais importante (e ameaça actual) nas regiões continentais.Nas ilhas, muitas espécies pareceram extinguir-se devido a predadores e competidores trazidos pelos humanos, como ratos, porcos e cabras.
De forma algo inesperada, os investigadores descobriram que nos últimos 200 anos não há evidência de aumento de extinções devido às alterações climáticas.
“Isso não significa que as alterações climáticas não sejam uma ameaça”, disse Wiens. “Significa apenas que extinções passadas não refletem ameaças atuais e futuras.”
Saban não quer que o estudo “seja interpretado como uma carta branca” para sugerir que a atividade humana não apresenta uma ameaça significativa e urgente para muitas espécies.
“A perda de biodiversidade é um problema enorme neste momento, e penso que ainda não vimos os tipos de efeitos que poderá ter”, disse. “Mas é importante que falemos sobre isso com precisão, que a nossa ciência seja rigorosa na forma como conseguimos detalhar essas perdas e prevenir futuras.”
“O nosso estudo mostra que as taxas de extinção não estão a acelerar em direção ao presente, como muitos afirmam, mas atingiram o pico há muitas décadas“, diz Wiens.
Em alguns grupos, como artrópodes e plantas e vertebrados terrestres, as taxas de extinção diminuíram efetivamente ao longo dos últimos 100 anos, nomeadamente desde o início do século XX, acrescenta o investigador.
Uma das razões para o declínio das taxas de extinção “é que muitas pessoas estão a trabalhar arduamente para evitar que espécies se extingam. E temos evidência de outros estudos de que investir dinheiro na conservação de facto funciona”, conclui o investigador.