Rita Pereira vive em Alfama e faz as contas aos meses em que deveria ter recebido 200 euros por mês ao longo dos últimos dois anos por parte do Apoio Extraordinário à Renda. Criado em 2023 pelo Governo de António Costa para ajudar famílias cujo esforço com a renda ultrapassa 35% do rendimento, o apoio é atribuído automaticamente — mas, no caso de Rita, continua a ser apenas uma promessa.

“Para 2024, deveriam pagar-me 219 euros todos os meses, mas nunca recebi. Este ano será 200, e também não recebi nada”, conta a moradora, que já recebeu várias cartas do Estado a confirmar o apoio. Feitas as contas, o total que lhe deve o Estado chega aos 4.800 euros entre 2024 e 2025.

Sem esta ajuda, Rita sobrevive graças à ajuda de amigos para pagar a renda de 500 euros em Alfama e enfrenta dívidas acumuladas. “Tenho dois animais, um deles com quase 17 anos, e cada ida ao veterinário é um esforço enorme. Não vou jantar fora, não saio a lado nenhum. Passei por situações complicadas: perdi os meus pais, fiz uma operação… e ainda tenho dívidas com os meus amigos, que estou a tentar resolver”, explica.

Rita já bateu a todas as portas. Entre o IHRU, as Finanças e a Segurança Social, ninguém consegue dar uma resposta. “É uma guerra entre o IHRU e as Finanças. No meio, só números que não funcionam e e-mails sem resposta”, desabafa Rita, descrevendo filas e esperas no balcão do IHRU, que tornam o processo ainda mais absurdo.

Recentemente, Rita recebeu uma carta do IHRU com um pedido de desculpa pelos atrasos, mas, no fundo, sem qualquer pagamento à vista. “Se fosse eu a dever, tinha a certeza de que as contas seriam congeladas ou algo aconteceria. Mas quando é o Estado a dever… nada”, lamenta.

Hoje, Rita trabalha no meio artístico de forma precária e sobrevive com rendimentos incertos. Dá voz a outras famílias na mesma situação, muitas das quais preferiram não falar publicamente com a Antena 1 sobre um apoio que existe no papel, mas que para muitas pessoas continua sem se tornar real.