Município diz que investiu oito milhões de euros numa obra “para evitar que as cheias se repitam naquela zona”
Oeiras aponta o dedo a Sintra pelas ocorrências provocadas pela chuva intensa de terça-feira em Tercena, na freguesia de Barcarena, onde uma mulher ficou ferida depois de ter sido arrastada pela força da água. Um dia depois de o presidente da autarquia, Isaltino Morais, ter feito esta afirmação, a autarquia explica que “recebe todas as águas que vêm do concelho de Sintra” e que “há vários anos reclama pela necessidade de uma obra para ampliação da conduta de Massamá/Tercena”.
“Tratou-se de um fenómeno de chuva intensa num curto espaço de tempo. O caso de Tercena, o mais crítico, advém do facto de acumular águas pluviais que vêm de Sintra e que vão escoar à rotunda das Seleções”, refere a Câmara Municipal de Oeiras por escrito à CNN Portugal.
Segundo o município, “todos os dias são realizadas ações de limpeza, quer das estradas, ribeiras, sarjetas ou passeios, reforçadas sempre que há avisos meteorológicos de chuva”. A autarquia confirma ainda que recebeu “avisos prévios da Proteção Civil, quer em meios nacionais, quer locais, através das redes sociais do município”.
Apesar disso, o problema voltou a repetir-se. “Dada a urgência da obra e a ausência de responsabilidade por parte do Município de Sintra e do Estado neste caso, o Município de Oeiras entendeu que não era possível esperar mais e, por isso, decidiu já há mais de um ano avançar com a obra e assumir o custo total, num investimento de oito milhões de euros, para evitar que as cheias se repitam naquela zona”, indica ainda a autarquia.
Entre as 12:00 de terça-feira e as 12:00 desta quarta-feira foram registadas 1.147 ocorrências em todo o país devido ao mau tempo, sobretudo inundações, concentradas na Grande Lisboa, Península de Setúbal e Algarve. Na freguesia de Barcarena, uma mulher ficou ferida com gravidade na sequência das chuvas fortes, naquela que é uma das zonas do concelho de Oeiras mais suscetíveis às intempéries.
A maioria das restantes situações correspondeu a quedas de árvores e estruturas, bem como limpezas de via.
Limpeza pode não ser suficiente
Foi uma das principais queixas de quem viu o seu quotidiano afetado pelas cheias de terça-feira: a falta de limpeza das estradas. Ainda assim, o climatologista Mário Marques lembra que esse não é o único problema das autarquias neste momento, já que “o que falha é sempre a mesma coisa: a drenagem”.
“Falta limpeza também, é uma realidade, mas falta sobretudo drenagem. As áreas da maior parte das cidades do litoral português aumentaram muito a sua impermeabilização e as tubagens foram colocadas há muitos anos. Estão subdimensionadas para o escoamento das águas pluviais ou residuais”, explica.
Mário Marques considera que Portugal “precisa de uma intervenção de fundo na maior parte dos municípios devido à grande percentagem de impermeabilização dos solos nos últimos 20 a 30 anos e à falta de medidas de planeamento que se adaptem a essa realidade”.
“Como há muito mais população presente em muitas cidades, incluindo turistas, há uma maior pressão. Gastam mais água, há mais telhados, mais áreas impermeáveis. Caminhamos para um agravamento da situação e depois a culpa é sempre do outro ou das alterações climáticas”, avisa o especialista.
Mário Marques destaca a necessidade de “planos intermunicipais e coordenação efetiva entre autarquias”, algo que considera estar em falta. “Há colaboração, mas não há partilha. Cada município quer ter a sua obra, o seu orçamento e o seu protagonismo”, lamenta.
“O que acontece em Oeiras, Loures ou Amadora é o mesmo: os municípios à volta das grandes cidades não fizeram o trabalho de casa. Cada um atua isoladamente. A água não conhece fronteiras administrativas, mas a obra, sim”, sublinha.
Apesar de a noite ter sido “mais calma” do que a tarde de terça-feira, a Proteção Civil revelou que se vai manter em alerta para novos episódios de chuva intensa, que deverá estar de regresso já na próxima sexta-feira. Nesse dia, Bragança, Viseu, Porto, Guarda, Vila Real, Viana do Castelo, Aveiro, Coimbra e Braga vão estar sob aviso laranja durante todo o dia.
Segundo a informação do IPMA, outros três distritos vão estar na sexta-feira sob aviso amarelo, designadamente Santarém, Leiria e Castelo Branco.
Nota: Até ao fecho do presente artigo, contactada pela CNN Portugal, a autarquia de Sintra não respondeu às declarações do município de Oeiras.