O príncipe André vai perder o título real e as honras de príncipe e sair do Royal Lodge, revelou o Palácio de Buckingham em comunicado. Anteriormente, o membro da família real britânica tinha renunciado aos seus títulos reais, incluindo de Duque de York, mas continuava a ser príncipe.
No documento oficial refere-se que foi iniciado um “processo formal” para que o príncipe André perca os tais títulos reais e que foi entregue uma “notificação formal para rescisão do contrato” no Royal Lodge, sendo que se mudará para uma residência privada.
Ainda que o príncipe André continue a “negar as acusações contra ele”, o Palácio de Buckingham considera estas ações “necessárias”. Além dessa ressalva, o Palácio de Buckingham envia condolência e assegura que está com as “vítimas e sobreviventes de todas as formas de abuso”.
Sem título, passa a apresentar-se apenas como Andrew Mountbatten Windsor e muda-se para Sandringham, em Norfolk, propriedade fundada pelo Rei Carlos III — o local onde a família real britânica se reúne na época de Natal. Ao contrário do pai, as filhas, as princesas Eugénia e Beatriz, vão manter os seus títulos.
Também Sarah Ferguson — com quem André foi casado entre 1986 e 1996 e também perdeu os títulos quando o irmão do Rei Carlos III renunciou ao título de duque de Iorque —, que continuava a viver na moradia, deverá mudar-se, segundo a Sky News.
De acordo com a BBC, o até agora príncipe André não se opôs à decisão do Rei Carlos III e o governo foi consultado, tendo declarado apoio.
Antes da decisão do Palácio de Buckingham, o príncipe André tinha anunciado que renunciava aos seus títulos reais, sendo que era duque de Iorque. A renúncia coincidiu com a pré-publicação de alguns excertos do livro póstumo de Virginia Giuffre, a mulher que acusou André de abusos sexuais quando esta acabou traficada pelo empresário Jeffrey Epstein. Em “Nobody’s Girl: A Memoir of Surviving Abuse and Fighting for Justice”, a mulher que tirou a própria vida em abril deste ano, recorda as interações que teve com o príncipe britânico no início do século.
As filhas de André eram “só um pouco mais jovens” que Giuffre — de 17 anos — quando se cruzaram. Com o entusiasmo de conhecer um membro da coroa britânica, a jovem sentiu a necessidade de preservar este momento para a eternidade e pediu a Epstein para tirar a fotografia com André, que lhe colocou o braço em redor da anca. A imagem acabou por circular na imprensa internacional em 2011 e abriu a Caixa de Pandora para as histórias da rede de tráfico orquestrada tanto por Epstein como pela sua companheira e cúmplice Ghislaine Maxwell — e com a alegada participação do príncipe britânico, que se terá envolvido sexualmente com a menor naquela mesma noite.
“Acreditava que fazer sexo comigo era um direito de nascença”, escreveu Virginia Giuffre no seu livro, relatando os sucessivos encontros que teve com André. Até aos dias de hoje, o irmão do Rei Carlos III nega qualquer acusação imputada. Contudo, um email recentemente revelado mostra uma conversa entre André e Epstein, na sequência da divulgação da imagem com Giuffre, onde o príncipe terá dito: “Estamos nisto juntos” e “Voltaremos a brincar”.
Nos últimos dias, a BBC revelou ainda que príncipe André recebeu Harvey Weinstein, Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell na sua casa, no Royal Lodge, em julho de 2006, dois meses depois da justiça norte-americana ter emitido um mandado de prisão contra Epstein por assédio sexual a uma menor. A notícia tinha como base numa análise da fotografia em que o grupo aparece nos jardins em Windsor. Os três, que posteriormente foram presos por crimes sexuais, foram convidados para a festa de aniversário de 18 anos da princesa Beatrice no Castelo de Windsor, e estiveram na residência privada do então duque de Iorque para cocktails antes da comemoração principal.
De acordo com uma testemunha ouvida pela BBC, Weinstein e Epstein foram vistos num pequeno evento no jardim do Royal Lodge, antes dos convidados seguirem para o baile de máscaras da filha de André. O facto dos três terem estado na festa em Windsor já era conhecido — mas ainda não se sabia que o príncipe havia recebido o trio na sua residência privada. Na entrevista de 2019 à BBC, o então duque de Iorque foi questionado sobre o motivo para ter convidado uma pessoa que tinha um mandado de prisão ativo nos EUA. “Certamente não sabia, quando os convidei, sobre o que estava a acontecer nos EUA e não soube até a imprensa publicar, porque ele nunca me disse nada”, respondeu. Anteriormente, outras fotografias divulgadas na imprensa provaram que Epstein e Maxwell já estiveram em outras propriedades da família real, como Balmoral em 1999 e Sandringham em 2000.
De recordar que Epstein é investigado desde 2005 pelo envolvimento em casos de assédio e abuso sexual contra menores de idade e em julho de 2019 foi preso por tráfico sexual, tendo morrido na prisão em agosto do mesmo ano, antes de ser julgado pelos crimes. Já Ghislaine Maxwell foi acusada em 2020 e condenada em dezembro de 2021 por vários crimes, incluindo tráfico sexual, conspiração e transporte de menor para atividade sexual ilegal. Já as acusações de assédio e violação contra Harvey Weinstein só foram tornadas públicas em 2013, apesar de terem acontecido pelo menos desde 1993. O antigo produtor de cinema foi condenado por diferentes crimes sexuais nos Estados da Califórnia e de Nova Iorque.
Príncipe André recebeu Harvey Weinstein, Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell no Royal Lodge em 2006
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