Os liberais têm uma vantagem mínima sobre a extrema-direita, mas uma capacidade incomensuravelmente maior de estabelecer coligações. Geert Winders viu a sua estratégia sair derrotada.

Rob Jetten, líder do D66 Democratas 66, o ano da fundação), o partido liberal-progressista terá conquistado 26 lugares no parlamento neerlandês (de 150 membros), numa altura em que a contagem dos votos está muito próxima do fim – esta quinta-feira, tinha uma vantagem de 15 mil votos sobre o Partido Pela Liberdade (PVV), de Geert Wilders. O PVV deverá alcançar o mesmo número de lugares no parlamento – mas, mesmo que o consiga, dificilmente o próximo primeiro-ministro não será Rob Jetten.

Quando há dois anos o PVV obteve uma vitória expressiva nas eleições, Wilders só conseguiu formar governo ao cabo de mais de meio ano e depois de aceitar não fazer parte do elenco. Dois anos volvidos, o líder dos extremistas de direita entendeu que estava chegada a hora de provocar eleições antecipadas, considerando que o seu partido podia chegar à maioria absoluta. Arranjou por isso um expediente – foi a imigração, o motivo mais fácil, mas podia ter sido outro qualquer – mas as eleições acabaram por não lhe correr bem: não tem maioria absoluta e arrisca ficar de fora do próximo governo.

É que, tal como sucedeu há dois anos, Wilders terá dificuldade em conseguir encontrar parceiros para uma coligação – e isto se ganhar as eleições, o que ainda não é certo. As dificuldades serão ainda maiores que há dois anos: o partido que então lhe ‘deu a mão’, o Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), sofreu um revés nas eleições desta quarta-feira, exatamente penalizado por ter ‘embarcado’ na aventura com os extremistas.

Do outro lado, o D66 só terá de escolher com quem fará coligação: com o próprio VVD, com os trabalhistas (coligados com os Verdes), que, tal como no Reino Unido, são os socialistas lá do sítio, ou mesmo o Apelo Democrata-Cristão (CDA), que se tem mostrado disponível. Chamando a si os neerlandeses pró-europeus, urbanos e de alto rendimento, o D66 tem todas as condições para formar governo. Concentrou a sua campanha em soluções para a crise habitacional, nomeadamente com um plano para construir novas cidades e escolheu um slogan otimista: “É possível”, que evoca o otimismo do “Sim, nós podemos” do ex-presidente norte-americano Barack Obama. Energia verde e acessível, “proveniente do nosso próprio solo”, aposta na prevenção na área da saúde e uma melhor educação, faziam parte do menu servido aos neerlandeses. Que o ‘compraram’. Quanto à imigração – um tema que se revela fraturante nos Países Baixos. Rob Jetten defende um sistema que permita a apresentação de pedidos de asilo fora da Europa, o que tem a vantagem de ‘esvaziar’ o problema, ou parte dele, nos países europeus.

Para os analistas, a melhor opção de Rob Jetten é tentar uma ampla coligação com o VVD e com os trabalhista/verdes. Mas tem pelo menos um problema: os dois passaram a campanha a guerrearem-se fortemente.

Conhecido como ‘Robô Jetten’ devido à forma desajeitada como responde às perguntas, o líder do D66, de 38 anos, assumidamente gay, esteve para assumir a liderança do partido em 2018, antes de decidir ceder o cargo à diplomata veterana Sigrid Kaag. Só veio a substituí-la depois dos resultados dececionantes de 2023. O D66 faz parte do grupo Renew Europe no Parlamento Europeu.