A família de Evyatar David, um israelense mantido refém em Gaza, o viu pela primeira vez em meses na noite desta sexta-feira (1º), em um vídeo divulgado por sequestradores do Hamas. Ele estava magro e pálido no que parecia ser um túnel subterrâneo.

A filmagem provocou uma onda de medo e horror entre as famílias das dezenas de reféns israelenses ainda mantidos em Gaza, quase dois anos após o ataque de 7 de outubro de 2023 a Israel, que matou cerca de 1.200 pessoas e deu início à guerra.

“Nossos irmãos estão se transformando em pele e osso neste exato momento”, disse Einav Zangauker, cujo filho Matan foi uma das cerca de 250 pessoas feitas reféns durante o ataque do Hamas, em um protesto neste sábado (2). Acredita-se que o filho ainda esteja vivo.

Mais de 100 reféns foram libertados durante dois cessar-fogo de curta duração, o último dos quais terminou em março. As forças israelenses encontraram os corpos de alguns outros reféns enquanto avançavam por Gaza. Israel acredita que cerca de 20 reféns ainda estejam vivos e quase 30 são presumivelmente mortos.

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A Palestina anunciou que metade das vítimas dos bombardeios na Faixa de Gaza é composta por mulheres e crianças.

As negociações de cessar-fogo entre Israel e o Hamas para libertar mais reféns em troca de prisioneiros palestinos estagnaram. No mês passado, negociadores israelenses e americanos deixaram Doha, no Catar, onde a maior parte das negociações ocorreu, sem nenhum avanço.

Neste sábado, o enviado do presidente Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, reuniu-se com as famílias dos reféns israelenses em Tel Aviv. Ele reiterou o compromisso do republicano em trazer de volta os reféns restantes e disse: “aqueles que estão vivos devem ser mantidos vivos”, de acordo com o Hostage Families Forum, um grupo de defesa dos direitos humanos.

David, de 24 anos, foi sequestrado em uma das cenas mais mortais de 7 de outubro, na rave Nova, no sul de Israel, onde mais de 350 pessoas foram mortas. Sua família afirmou em um comunicado que ele se tornou um “esqueleto vivo, enterrado vivo” nos túneis do Hamas.

Antes do vídeo mais recente, ele foi visto pela última vez em um vídeo divulgado pelo Hamas em março, no qual militantes o filmaram observando à distância enquanto outros reféns israelenses eram libertados durante uma trégua de dois meses. Especialistas em direitos humanos afirmam que os vídeos — gravados sob extrema coação — podem constituir um crime de guerra.

No novo vídeo do Hamas, outras imagens de David foram intercaladas com imagens de moradores de Gaza extremamente emagrecidas.

A fome generalizada se espalha por Gaza, com Israel limitando a quantidade de ajuda humanitária que chega e o desespero gerando caos em torno da maior parte da ajuda que chega. Mais de um em cada três dos dois milhões de habitantes de Gaza não come há vários dias consecutivos, de acordo com o Programa Mundial de Alimentos.

Israel continua com sua campanha militar em Gaza, onde mais de 60 mil pessoas foram mortas desde o início da guerra, incluindo milhares de crianças, de acordo com autoridades de saúde palestinas, que não fazem distinção entre civis e combatentes.

Durante meses, parentes de reféns israelenses e seus apoiadores constituíram um dos poucos focos de resistência dentro de Israel à guerra contra o Hamas. As famílias dos reféns israelenses temem que seus entes queridos também possam ser mortos caso a guerra continue, seja por bombardeios israelenses ou por seus sequestradores palestinos.

“Tentamos de tudo — pressão militar, deslocamento de pessoas, bloqueio de alimentos, conquista de áreas, eliminação de comandantes do Hamas — nada disso trouxe todos os reféns de volta”, disse a Zangauker. “A única coisa que não tentamos foi um acordo abrangente em troca do fim da guerra”, finalizou.