«O Pedro Ferreira foi um dos melhores diretores de scouting do Benfica. Foi ele que identificou o Enzo Fernández e o Darwin, por exemplo», atirou João Noronha Lopes.

«O Darwin?!», reagiu Rui Costa a rir e com um sinal de negação.

Este diálogo entre João Noronha Lopes e Rui Costa no debate televisivo desta quinta-feira não tardou a dar que falar no universo benfiquista, onde se têm multiplicado interrogações e versões sobre um tema com mais anos do que aqueles que se contam desde a chegada do avançado uruguaio ao Benfica no verão de 2020.

Nessa altura, Rui Costa era então o diretor-desportivo do Benfica e deslocou-se até ao sul de Espanha para fechar a contratação do jogador de 21 anos. Por volta das 18h00 de 2 de setembro, o dirigente das águias apareceu na zona de chegadas do aeroporto de Lisboa com aquela que no dia seguinte se tornaria na contratação mais cara da história do clube.

Custou 24 milhões de euros, mas a verdade é que pelo menos desde 2016, quando Darwin era ainda juvenil, que o nome da jovem promessa do futebol uruguaio já constava de relatórios da formação do Seixal, que trabalha também na descoberta de jovens talentos estrangeiros que possam integrar as camadas jovens do clube numa lógica de antecipação de mercado.

E, em 2019, a estrutura chefiada por Pedro Ferreira – e da qual faziam parte Tomás Amaral, Joaquim Pinto, Gonçalo Bexiga, Mauro Mouralinho, André Oliveira e Jorge Gomes, colaborador de longa data das águias que era responsável pelo mercado na América do Sul, mas cuja área de influência decresceu após a reestruturação do departamento de scouting das águias desenhada por Pedro Ferreira (ex-responsável pela prospeção da formação) em conjunto com Tiago Pinto (então diretor-geral) e Rui Costa – já tinha o jogador altamente referenciado antes mesmo de vir para a Europa pela porta do Almería, clube do segundo escalão de Espanha que depois fechou negócio.

Isso mesmo foi confirmado por Pedro Ferreira numa entrevista concedida pelo atual Head of Recruitment do Nottingham Forest ao Maisfutebol no verão de 2024 pouco depois da saída do Benfica. «Nós já o conhecíamos da época anterior, quando ele estava no Peñarol, mas não houve, se calhar, a certeza no clube se deveríamos investir, embora nós, no scouting, até gostássemos muito dele», afirmou.

O facto de ter estado praticamente um ano e meio sem competir entre o final de 2016 e o verão de 2018 fez com que a cúpula do futebol profissional das águias decidisse não avançar para um negócio que, a acontecer, seria fechado por um valor consideravelmente mais baixo: recorde-se que o Almería pagou por ele 8 milhões de euros.

Já em 2022 Luís Filipe Vieira referiu também, numa entrevista à CMTV após a venda de Darwin ao Liverpool por um bolo que atingiu os 85 milhões de euros, que o atacante uruguaio estava nos dossiers do departamento de scouting. «Há uma equipa de scouting do Benfica que é liderada pelo Pedro Ferreira, que tem feito um trabalho fabuloso. (…) O Enzo [Fernández] era um dos jogadores que já estava referenciado, assim como o Darwin também.»

O departamento de scouting do Benfica no tempo de Pedro Ferreira – 2019 a 2024 – funcionava por mercados. Cada elemento era responsável por um mercado (América do Sul, Ásia, ou vários países da Europa, etc) durante um ano. Ao fim dessa época todos trocavam, de forma a terem um conhecimento mais global dos jogadores.

Os ficheiros nascidos da observação dos jogadores eram depois inseridos numa base de dados partilhada, de modo a que o scout B, C ou D pudessem também dar pareceres sobre o atleta que estava a ser seguido pelo scout A e reduzir, através de um trabalho de equipa, a margem de erro. Enquanto líder do departamento, era Pedro Ferreira quem depois dava o parecer final e decidia se o dossier de um determinado jogador – no caso concreto, de Darwin – seguia para quem estava acima dele na estrutura tomar uma decisão final acerca de uma eventual negociação.