Os fósseis de dois Edmontossauros, que pertencem ao grupo de dinossáurios com bico de pato, encontrados no Wyoming, na Formação Lance durante uma escavação levada a cabo entre 2000 e 2001, são de um adulto jovem com aproximadamente 12 metros de comprimento e de um jovem de dois anos de idade com cerca de metade desse comprimento.
Viveram há 66 milhões de anos, no fim do Cretácico, na véspera do evento da extinção dos dinossáurios, e conviveram com o T-Rex.
Contornos da pele escamosa
Embora os fósseis dos Edmontossauros sejam apelidados de “múmias”, estes achados não são de facto múmias como os corpos elaboradamente preservados no antigo Egito.
“Estes fósseis não se parecem com as múmias humanas de estilo egípcio. Nas nossas múmias não há ADN, não há estrutura de tecido, não há nada. É uma máscara de argila”, explicou o paleontólogo da Universidade de Chicago, Paul Sereno, que liderou o estudo publicado na revista Science.
Após os fósseis terem sido tratados em laboratório, os cientistas descobriram grandes áreas de “pele escamosa e enrugada“, para além de “uma crista carnuda sobre as suas costas“, preservadas numa fina camada de argila que se formou depois de os animais morrerem.
“Uma bateria de testes mostrou que todos os elementos fossilizados do revestimento externo do dinossáurio – pele, espinhos e cascos – estão preservados num molde de argila fina (com 1 mm de espessura) que se formou na superfície da carcaça enterrada durante a decomposição, antes da perda de todos os tecidos moles e compostos orgânicos”, explica o mais recente estudo dedicado aos dois Edmontossauros.
“Estamos a ver o perfil completo do dinossáurio pela primeira vez”, declarou Sereno. Perante os detalhes do fóssil, os cientistas sublinham que estão “a descobrir como realmente era a textura da pele”.
A pele escamosa de uma crista sobre as costas do dinossáurio juvenil Edmontossauro. Uma camada de argila fina preservou os contornos do corpo externo | Tyler Keillor / Fossil Lab
Para além da crista carnuda ao longo do pescoço e costas e uma fileira de espinhos que corriam pela cauda, a pele era fina o suficiente para produzir rugas delicadas sobre a caixa torácica e era pontilhada com pequenas escamas, descrevem os investigadores.
Único dinossáurio com cascos
Mamíferos como cavalos, vacas, cabras e ovelhas desenvolveram cascos, estruturas que protegem os dedos, suportam o peso do animal, oferecem tração e absorvem o choque do impacto da caminhada e da corrida.
Mas os Edmontossauros conseguiram desenvolver essa proteção milhões de anos antes. “É o primeiro dinossáurio, o primeiro réptil e o primeiro vertebrado terrestre conhecido por ter desenvolvido cascos”, apontam os cientistas.
“É para a terra dura, para andar eficientemente ou até talvez correr sobre a superfície”, observa Sereno.
Os seus cascos são um exemplo de um “fenómeno chamado evolução convergente“, em que organismos diferentes sob condições ecológicas (ambientes ou nichos ecológicos) idênticas desenvolvem características semelhantes, como as asas nos pássaros, morcegos e répteis voadores extintos chamados pterossauros, argumentou.
“Desculpem, mamíferos, afinal não foram vocês quem inventou os cascos”, brincou o investigador.
Edmontosaurus é o único dinossauro conhecido com cascos. O autor do estudo, Paul Sereno, da Universidade de Chicago, observa os cascos preservados da uma “múmia” adulta de Edmontossauros | Kieth Ladzinski
“A vaca desse tempo”
O Edmontossauro era herbívoro, mastigava plantas com um focinho largo e plano e vagueou pelo oeste da América do Norte lado a lado com predadores como Tyranossauros e outros herbívoros, o Triceratops ou o blindado Ankylosaurus.
“O Edmontossauro é de longe o dinossáurio mais comum” naquele ecossistema, refere Sereno. “Formavam rebanhos gigantes. É a vaca desse tempo”, acrescenta.
Ilustração mostra o dinossáurio bico-de-pato Edmontossauro como era há 66 milhões de anos, com base em “múmias” fossilizadas descobertas no centro-leste do Wyoming | Dani Navarro via Reuters
Em adulto atingia cerca de 12,8 metros, rivalizando com as dimensões do Tyranossauro. Noutros fósseis de Edmontossauro já se encontraram marcas de dentes, o que nos diz que faria parte das refeições do T-Rex.