Vários serviços secretos militares europeias, como os alemãs ou francesas, advertem que a Rússia está a planear um ataque contra um Estado-membro da NATO dentro de alguns anos. Mesmo que não se concretize, Vladimir Putin quer tentar perceber se Donald Trump apoia efetivamente uma resposta militar da NATO, ou se mantém as dúvidas e reservas que foi manifestando ao longo do primeiro mandato. Este ano, o Presidente norte-americano, após praticamente todos os Estados-membros da Aliança (à exceção de Espanha) terem aceitado cumprir a meta de 5% na Defesa, mostrou estar satisfeito com a organização. Mas pode mudar a sua opinião a qualquer momento.

Gerar desconfiança entre os dois lados do Atlântico é uma tática estratégica para Vladimir Putin vencer na Ucrânia. O Presidente russo quer que os europeus não confiem em Donald Trump e que Donald Trump não confie nos europeus. Ao quebrar esta aliança histórica, o chefe de Estado da Rússia pretende transformar-se na única voz a dialogar com os norte-americanos para obter um acordo favorável, secundarizando a Europa e a Ucrânia no processo negocial.

Nas suas declarações públicas, o Kremlin não tem hostilizado os Estados Unidos, mesmo que Donald Trump tenha admitido que está cada vez mais “desiludido” com o homólogo russo. O Presidente norte-americano adiou indefinidamente a cimeira de Budapeste e assegurou que “não quer perder tempo” com “bonitas conversas” com Vladimir Putin, acabando por anunciar esta sexta-feira que não vai haver mesmo qualquer encontro. Além disso, os EUA aplicaram sanções a duas petrolíferas russas, as primeiras do segundo mandato de Trump, a Lukoil e a Rosneft, com o objetivo de travar a máquina de guerra russa,

Se bem que a presidência russa tenha mantido a cordialidade, já agiu a estas ações norte-americanas. Num tom que lembra a Guerra Fria, Vladimir Putin divulgou ao mundo, nos últimos dias, o sucesso dos treinos decisivos com dois equipamentos de guerra poderosos: o míssil de cruzeiro com propulsão nuclear Burevestnik que pode atingir alvos a 20 mil quilómetros de distância, e o drone submarino movido a energia atómica Poseidon, que gera tsunamis radioativos. O Presidente russo enfatizou que estas duas armas são “únicas no mundo”, no que pode ser interpretado como um recado para os Estados Unidos.