Numa intervenção no Congresso Internacional do Cooperativismo, em Lisboa, Passos Coelho começou por alertar para os problemas que derivam de os governos, em Portugal e na Europa, atualmente, “atribuírem uma urgência ao curto prazo e uma importância demasiado relativa ao médio e ao longo prazo”, por “medo da reação das pessoas” que não estão alertadas para as dificuldades na segurança, no cumprimento de regras orçamentais ou de “investir o suficiente em escala para competir no mundo”.


“Sempre achei que é preferível enfrentar a consequência negativa do julgamento eleitoral fazendo alguma coisa que nos parecesse ser indispensável a pensar no futuro e continuo a pensar que é isso que vale a pena. A política, ao contrário do que muitos pensarão, não acaba a cada eleição. Porque em todas as eleições se pode perder e se pode ganhar. Mas na verdade só há eleições para perder e para ganhar para quem olha para o futuro de uma forma não passiva”, acrescentou.


Com o secretário de Estado Silvério Regalado na plateia, Passos elogiou o Governo por conseguir “retirar à discussão orçamental em Portugal o dramatismo que durante tanto tempo” teve, por considerar que o Orçamento do Estado é um instrumento para o executivo “cumprir as suas obrigações externas e internas e não deve ser o palco de outras discussões”.


Após o elogio, Passos Coelho deixou “alertas” ao Governo, avisando que “chegou o fim das margens de manobra que permitem ir adiando decisões importantes” e “já não vale a pena haver mais cálculos eleitorais” e “perder tempo com preocupações distributivas”.


“Todos os setores sociais gostarão de receber alguma atenção do Estado e alguma atenção financeira, mas ninguém perdoa no futuro que os Governos não façam aquilo que é preciso a olhar para o futuro. E esse é que é o ponto. Todo o dinheiro que é distribuído no dia-a-dia está distribuído, está gasto”, acrescentou.


Passos Coelho afirmou também que quando se evita “tomar decisões tão importantes no tempo certo” está-se “condenado a tomá-las fora de tempo”, sempre com “um resultado pior”.


“Porquê? Porque elas não são tão efetivas e têm sempre de ser mais drásticas do que seriam se tivessem sido tomadas na altura certa. Eu creio que este é o momento, portanto, para fazer esse alerta. Quer em termos europeus, quer em termos nacionais”, considerou o antigo chefe de Governo.


O antigo líder do PSD afirmou ainda que o “Estado deixou de investir há muitos anos” e “investe estritamente aquilo que corresponde às disponibilidades que são colocadas a Portugal pela União Europeia”, e confia no consumo para o seu crescimento, que, acrescentou, “para o ano não vale nada”.