A vida sexual do Aedes é mais interessante do que eu imaginava. Apesar de os mosquitos serem os animais que mais causam mortes em seres humanos, seu comportamento sexual era um mistério. E não é à toa, o coito ocorre durante o voo e dura menos que 15 segundos. Documentar o ato é uma tarefa impossível para um cineasta voyeur. Mas agora os cientistas resolveram agarrar o touro à unha.
O primeiro passo foi construir duas linhagens de Aedes, uma que produz uma molécula que emite cor vermelha quando iluminada e outra que possui uma molécula que brilha em amarelo. Em seguida, produziram centenas de machos de cada cor e colocaram esses machos em uma grande gaiola com centenas de fêmeas virgens.
Como era de se esperar, o sexo correu solto. As fêmeas tinham 6 ou 12 dias de idade e ficaram com os machos por períodos de 2 horas a 3 dias. As fêmeas foram então separadas e a cor dos espermatozoides encontrados no seu aparelho reprodutor foi tabulada.
Na vida sexual do Aedes aegypti são as fêmeas que mandam. Foto: Kwangmoozaa/Adobe Stock
A enorme maioria das fêmeas (~85%) possuía espermatozoides de somente uma das cores, sugerindo que cada fêmea, mesmo ficando com machos das duas cores, só copulava uma vez e com um só macho. Se elas fossem promíscuas, era de se esperar espermatozoides das duas cores no interior das fêmeas. E isso foi confirmado em um segundo experimento em que as virgens eram colocadas com machos de uma cor, eles eram retirados, e em seguida com machos da outra cor.
Nesse experimento ficou claro que elas eram rapidinhas. Todas tinham relações com os machos da primeira cor e, quando na presença da segunda batelada de machos, nenhuma apresentava espermatozoides do segundo grupo. Apesar de as fêmeas terem espermatozoide de uma cor, elas continuavam a ser agarradas pelos machos do segundo grupo durante o voo, o que significa que os machos continuavam assediando, mas sem sucesso. O que estaria acontecendo?
Com a impossibilidade de filmar os coitos e tentativas de coito durante o voo, os cientistas apelaram para um truque sujo. Colocaram uma gotícula de cola nas costas das fêmeas e as colaram em um alfinete. E colocaram o alfinete na frente de uma câmara de filmagem. Nesse arranjo, as fêmeas ficam com as asas e patas livres e provavelmente imaginam que estão voando. E os machos voam ao redor das fêmeas e as agarram tentando copular.
O que essas filmagens pornográficas revelaram é a intimidade do ato sexual. O que vou descrever ocorre em menos de dois segundos. Quando o macho abraça a fêmea, as pontas posteriores dos dois corpos se aproximam e o macho toca os lábios vaginais da fêmea. Se ela é uma fêmea virgem, ela alonga a ponta dorsal do corpo expondo a entrada de seu órgão sexual. O macho encosta nessa superfície seu órgão sexual e eles se encaixam como uma chave numa fechadura; e a transferência de espermatozoides ocorre.
Mas, se a fêmea já foi fecundada, nas tentativas seguintes, ele encosta na fêmea, mas ela não responde, não alongando sua extremidade. E o macho não tem acesso. A chave não encaixa na fechadura. Isso explica por que as fêmeas só têm uma única relação sexual e todos os espermatozoides encontrados no seu interior provêm do primeiro macho, aquele que tirou sua virgindade.
A consequência deste sofisticado comportamento sexual é que a fêmea tem o controle absoluto do processo reprodutivo. Ela escolhe o primeiro macho e rejeita todos os que a assediam depois. Esse poder das fêmeas já foi observado em muitos mamíferos nos quais muitos machos assediam a fêmea, mas são elas que no final têm o poder da escolha.
Muitos biólogos acreditam que é isso que acontece na espécie humana, são as mulheres que escolhem o pai de seus filhos. Mas, claro, no nosso caso o processo é muito mais complicado.
Mais informações: A rapidly evolving female-controlled lock-and-key mechanism determines Aedes mosquito mating success. Curr.Biol. https://doi.org/10.1016/j.cub.2025.09.066 2025