O lançamento do filme “A House of Dynamite”, dirigido por Kathryn Bigelow, provocou um inédito desconforto no complexo militar-industrial dos Estados Unidos. A produção, disponibilizada pela Netflix, mostra um ataque nuclear bem-sucedido contra o território norte-americano após o fracasso dos interceptores terrestres — retrato que o Missile Defense Agency (MDA), agência do Pentágono responsável pela defesa antimíssil, considera “inexato” e capaz de minar a confiança pública nos sistemas de defesa.
Segundo um memorando interno vazado, datado de 16 de outubro, o MDA afirma que os mísseis interceptores dos EUA “exibem índice de acerto de 100% nos testes há mais de uma década”. A produção — que retrata um interceptador falhando em deter um míssil balístico rumo a Chicago — contraria essa versão oficial.
O roteirista Noah Oppenheim afirmou que “respeitosamente discorda” da avaliação da agência, sustentando que o sistema de defesa real é “altamente imperfeito”. Senador Edward J. Markey avaliou o longa-metragem como um “sinal de alerta” para a fragilidade da dissuasão nuclear americana e defendeu foco em desarmamento e controle de armas.
Por que o Pentágono está alarmado
A agência argumenta que a narrativa do filme pode impactar a percepção sobre a eficácia dos cerca de US$ 50 bilhões investidos no sistema de interceptação de mísseis. Além disso, o alerta interno visa preparar funcionários para reações públicas e debates que podem emergir do alcance da produção — mais de 20 milhões de visualizações nos primeiros dias.
Autoridade artística e questionamento técnico
Bigelow e Oppenheim ressaltam que optaram por não buscar cooperação do Pentágono para garantir autonomia autoral. “Nosso trabalho é lançar o debate — não assumir que somos exatos,” disse a diretora. Já análises especializadas, como a da física nuclear Laura Grego, afirmam que o enredo simplifica demais os cenários reais de ataque nuclear, como múltiplos mísseis, contramedidas e cápsulas falsas.
A controvérsia reacende o diálogo sobre o equilíbrio delicado entre entretenimento, segurança nacional e transparência sobre capacidades militares.■
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