23 anos depois, Sam The Kid resolveu levar a sua obra-prima instrumental aos palcos. Editado em 2002 pela saudosa Loop:Recordings, Beats Vol. 1: Amor foi apresentado pela primeira vez ao vivo esta sexta-feira, 31 de outubro, na primeira de duas noites consecutivas no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa. A 25 de novembro, o mesmo espetáculo é reproduzido na Casa da Música, no Porto.
Mesmo que numa perspetiva abstrata e algo imaginada, este é um disco que retrata a história de amor (e desgosto) dos pais de Samuel Mira. A paixão inicial, a construção de uma relação, o nascimento dos filhos, a traição, a separação, as saudades e a romântica convicção de que O Amor Não Tem Fim.
Toda uma vida, e uma panóplia de realidades que marcam o amor, traduzidas em instrumentais criados com samples de soul, jazz ou funk — e salpicados por frases de telenovelas ou filmes que vão acrescentando detalhes a uma narrativa sonora que tanto é suficientemente concreta como, ao mesmo tempo, deixa espaço para a imaginação. Para que cada ouvinte transporte aqueles sentimentos e sensações para as suas próprias vivências.
No palco do CCB, Sam The Kid aparece ao centro como o maestro de uma orquestra. À sua volta, os instrumentistas dos Orelha Negra — João Gomes a trocar entre diferentes teclados e um piano, Francisco Rebelo no baixo, Fred Ferreira na bateria. Dos lados, duas plataformas elevam uma orquestra, sobretudo composta de violinos, mas também com violoncelos e uma secção de sopros. Já não é uma imagem assim tão estranha — é-nos familiar dos concertos que Sam The Kid fez com orquestra nos últimos anos.