Uma primeira edição de Les Fleurs du Mal (As Flores do Mal, 1857), de Charles Baudelaire (1821-1867), obra pioneira da poesia moderna, foi vendida esta sexta-feira em Guimarães, pela leiloeira Anno, por 17.500 euros.
A base de licitação deste exemplar raro, um dos 1300 editados em Paris com a chancela Poulet-Malassis, e que logo viria a ser considerado “imoral” e de seguida censurado e mesmo mutilado por um tribunal da capital francesa, era de 10.000 euros. O livro, que estava na posse de um brasileiro a residir em Portugal, foi agora arrematado por um coleccionador português.
Raul Pereira, proprietário da Anno, diz que o preço atingido “ficou dentro das expectativas, e até um pouco acima da média da venda internacional de exemplares idênticos desta obra de Baudelaire no último ano” (mesmo se no último leilão em que foi à praça, na casa francesa Alde, atingiu os 27.500 euros). Mas admite que, no seu conjunto, o leilão, em que apenas foram vendidos 15 dos 33 lotes disponíveis, “ficou aquém do esperado”.
Dos cinco lotes que a Anno apresentava como mais valiosos e com bases de licitação mais altas, foi também apenas vendido Theatro Historico, Genealógico y Panegyrico, do português Manuel de Sousa Moreyra (Paris, 1694), por 1.100 euros, sobre uma base de licitação de 800 euros. A título de curiosidade, ficou por licitar outra obra marcante da literatura francesa e mundial, A la Recherche du Temps Perdu (Em Busca do Tempo Perdido, 15 volumes), de Marcel Proust, numa edição Gallimard de 1949, e que tinha como preço base 200 euros.
“Neste leilão, apresentávamos peças que, embora muito raras, têm também um mercado muito restrito”, diz Raul Pereira, lembrando que a sua é uma casa ainda recente, vai apenas no terceiro ano de actividade, mesmo se já realizou perto de meia centena de leilões. “Às vezes, temos de correr riscos, porque o que nos interessa e nos agrada é destacarmo-nos pela selecção de autênticas raridades”, justifica.
O leiloeiro anuncia, entretanto, que entre 24 e 28 de Novembro a Anno vai levar à praça parte da biblioteca de Carlos Carvalho Dias (1929-2024), um arquitecto, urbanista e também reconhecido bibliófilo, que, em meados da década de 1950, integrou a equipa do histórico Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa, na região de Trás-os-Montes e Alto Douro, sob a direcção de Octávio Lixa Filgueiras.
Passado mais de meio século sobre essa aventura, Carlos Carvalho Dias publicou o livro Memórias de Trás-os-Montes e Alto-Douro: nos 55 anos do ‘Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa’ (2010), cuja documentação e maquetas de edição doou, em 2018, à Fundação Marques da Silva, da Universidade do Porto.