Espanha está entre os países menos “ligados à natureza” do mundo, segundo revela o primeiro estudo global sobre a relação das pessoas com o meio natural, noticiado pelo The Guardian e publicado no jornal científico Ambio. O país surge no último lugar de entre 61 nações analisadas, num inquérito a 57.000 pessoas que examina o modo como factores sociais, económicos, geográficos e culturais influenciam a percepção humana da natureza. Portugal situa-se em 39.º lugar.

O país mais conectado à natureza é o Nepal, seguido do Irão, África do Sul, Bangladesh e Nigéria. Na Europa, apenas Croácia e Bulgária aparecem no top 10, enquanto a França ocupa o 19.º lugar. No extremo oposto, abaixo do Reino Unido estão os Países Baixos, Canadá (de língua inglesa), Alemanha, Israel e Japão, com a Espanha a ocupar o último lugar da lista.

O conceito de “ligação à natureza” mede a proximidade psicológica de um indivíduo com outras espécies — o estudo afirma que pessoas mais ligadas à natureza tendem a ter maior bem-estar e agir de forma ambientalmente responsável. Por outro lado, níveis baixos de ligação à natureza são tidos como uma das principais causas da perda de biodiversidade, juntamente com a desigualdade e a priorização de lucros individuais.

Os investigadores do Reino Unido e da Áustria, liderados por Miles Richardson, professor na Universidade de Derby, identificaram a espiritualidade como o indicador mais forte de proximidade com a natureza: sociedades mais religiosas ou que valorizam a fé em detrimento da ciência apresentam níveis mais elevados de conexão com o meio natural.

Em contrapartida, países com maior “facilidade para fazer negócios” — uma medida do Banco Mundial que avalia a viabilidade do ambiente de um país para o meio empresarial — tendem a ter menor ligação à natureza. O estudo revelou também que a elevada filiação em organizações ambientais não traduz necessariamente uma conexão efectiva com a natureza.

Outros factores associados à desconexão incluem urbanização, rendimento médio e uso da internet. “A ligação à natureza não se resume ao que fazemos, mas a como sentimos, pensamos e valorizamos o nosso lugar no mundo vivo”, afirma Richardson.

Para fortalecer essa ligação, Richardson propõe aproveitar ambientes naturais em tratamentos de saúde mental e pública, reconhecer direitos da natureza na lei e incluir critérios ambientais nas decisões empresariais, como a obrigação de ganhos de biodiversidade.

O estudo evidencia a tensão entre economia e meio ambiente, mas Richardson defende que é possível repensar negócios para tratar a natureza como parceira e não apenas recurso. Em áreas urbanas, a presença de natureza deve ir além de parques: “Como criar natureza urbana sagrada? Um parque é fácil, mas é preciso ir mais fundo”, afirma.

A correlação entre ligação à natureza e espiritualidade foi identificada a partir de dados sobre religiosidade e crença em Deus em diferentes países, recolhidos pelo World Values Survey.