Após produzir uma teia, uma aranha pode considerar que a construção ainda está incompleta. Algumas delas frequentemente acrescentam à estrutura espécies de decorações. Estas geralmente são feitas de seda, mas também podem ser pedaços de restos de insetos ou exoesqueletos descartados.
É curioso que as aranhas embelezem suas teias dessa maneira. As estruturas parecem ser destinadas a ser leves e discretas. No entanto, as criaturas adicionam elementos grandes e notáveis —conhecidos como estabilimentos—, alguns em formato de zigue-zague, outros como se fossem um X que marca o centro da teia.
Um estudo publicado na revista Plos One, na última quarta-feira (29), oferece uma nova hipótese para explicar por que as aranhas fazem isso e, assim, tentar resolver o conflito científico sobre o assunto.
É uma área em que os cientistas parecem gostar de discutir, segundo o físico Gabriele Greco, da Universidade Sueca de Ciências Agrárias, um dos autores do estudo. “E eu fui estúpido o suficiente para começar esse tópico.”
Há amplo apoio para a ideia de que as decorações distraem ameaças, como pássaros ou vespas. As aranhas são conhecidas por vibrar suas teias, desfocando as decorações e, então, escapando por um buraco no disco ou saltando para um lugar seguro.
Pesquisadores também já levantaram a hipótese de que esses acessórios da teia coletam água ou enganam insetos ao refletir luz UV.
Greco ficou surpreso ao descobrir que não havia muita investigação científica sobre como os estabilimentos afetavam a estrutura, o movimento e a vibração das teias. Ele e seus colegas se propuseram a estudar as teias de aranhas-vespa (Argiope bruennichi) na ilha italiana da Sardenha.
Um dos coautores do estudo, Luigi Lenzini, passou dois anos documentando os estabilimentos da espécie. Praticamente metade das teias analisadas tinha as decorações. Às vezes, os fios traçavam ziguezagues entre duas hastes. Outras vezes, formavam uma plataforma de fibras entrelaçadas concentradas no meio da teia.
As aranhas podem detectar a presença de presas na teia por meio de vibrações que percorrem os fios. E elas podem ajustar a tensão de um fio de seda, alterando como as vibrações viajam. A equipe de Greco supôs que os estabilimentos também poderiam afetar a velocidade e a distância de tais sinais.
Para testar essa ideia, eles usaram um programa de computador para simular teias com e sem as decorações. Inicialmente, não observaram muita influência das decorações sobre como as vibrações se propagavam.
“Pensávamos que teríamos encontrado algo muito mais evidente”, disse Greco.
Então, um pesquisador que revisava o estudo para publicação sugeriu que a equipe tentasse modelar vibrações que começassem em uma tangente aos fios espirais.
Neste caso, com um estabilimento que parece uma massa disforme no centro da teia, os modelos sugeriram que algumas vibrações que de outra forma seriam perdidas poderiam viajar para o outro lado da teia onde a aranha poderia detectá-las. Essa massa central pode melhorar a conectividade da teia.
O trabalho traz uma ideia antiga sobre as decorações —de que eles afetam a estabilidade e outras propriedades de uma teia— para a era moderna, na avaliação do biólogo Todd Blackledge, da Universidade de Akron (Estados Unidos).
Mas, segundo Blackledge, não está claro quanto essas simulações e as suposições necessárias para criá-las capturam o comportamento real das teias. Por exemplo, as teias modeladas eram circulares, enquanto as teias reais tendem a ser assimétricas e alongadas na parte inferior.
O biólogo Fritz Vollrath, da Universidade de Oxford (Reino Unido), afirmou que os pesquisadores ainda precisam testar como o efeito que encontraram se manifestaria em teias reais. “O paradoxo dos estabilimentos não foi resolvido”, disse o cientista, que não participou do trabalho.