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Muitos estudos questionam a ideia de “álcool saudável”: até hoje nenhum encontrou um benefício.

Novas pesquisas realizadas nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Dinamarca sugerem que os riscos para a saúde associados ao consumo de álcool começam a aumentar mesmo com apenas duas ou três bebidas por semana: todo, mas mesmo todo o álcool faz mal à saúde e “nunca nenhum estudo demonstrou um efeito protetor ou benéfico do álcool”, reforça Patricia Molina, investigadora de fisiologia na Universidade Estadual do Louisiana, cujo trabalho se foca no impacto do álcool no organismo, citada pela National Geographic.

A questão que se coloca é: existe realmente um nível “seguro” de consumo? Embora qualquer ingestão de álcool comporte riscos, os especialistas indicam que existem níveis relativamente menos prejudiciais e que até pequenas reduções podem ter efeitos positivos significativos.

O primeiro passo é… beber menos álcool, claro.

Como o álcool afeta o corpo

Quando o álcool entra na corrente sanguínea, o fígado começa imediatamente a metabolizá-lo, produzindo acetaldeído, um composto altamente reativo e carcinogénico que provoca grande parte dos danos associados ao consumo de álcool. “Quando bebemos álcool, cada célula do nosso corpo fica exposta”, explica Molina, sublinhando que órgãos que normalmente não se pensa estarem afetados acabam por sofrer consequências.

O consumo de álcool está ligado a mais de 200 condições de saúde, incluindo doença cardíaca, demência, perda muscular, osteoporose e vários tipos de cancro, como o cancro da mama. “Além de contribuir para diversos problemas de saúde, pode acelerar o envelhecimento”, alerta Molina. “É como se fosse um fardo extra que o corpo tem de suportar, levando muitos sistemas a evidenciar sinais de envelhecimento prematuro.”

Algumas pessoas possuem mutações genéticas que dificultam a metabolização do acetaldeído, aumentando significativamente o risco de problemas de saúde relacionados com o álcool. Esta variante é mais comum em pessoas com ascendência da Ásia Oriental e provoca reações visíveis como rubor facial, aumento do ritmo cardíaco e sensação de mal-estar. Nestes casos, o risco de desenvolver cancro ou outras doenças relacionadas com o álcool é ainda mais elevado.

Os riscos do consumo moderado

Durante décadas, os estudos sobre álcool sugeriam uma “curva em J”: pessoas que bebiam moderadamente aparentavam viver mais do que as que se abstinham totalmente e as que consumiam grandes quantidades. Isto dava a impressão de que pequenas doses de álcool poderiam ser benéficas.

Contudo, os investigadores alertam para os fatores de confusão que podem distorcer os resultados. O consumo de álcool está frequentemente associado a outros comportamentos e condições de saúde, como estatuto socioeconómico, dieta e acesso a cuidados médicos, que podem mascarar os efeitos negativos do álcool. Além disso, pessoas com problemas de saúde podem deixar de beber, criando uma falsa impressão de que a abstinência está associada a pior saúde.

A heterogeneidade dos padrões de consumo também dificulta a interpretação dos estudos. “O grupo que se considera de consumo moderado é provavelmente o mais variado, pois pode alternar entre períodos de alto e baixo consumo”, explica Carolina Kilian, epidemiologista da Universidade do Sul da Dinamarca.

Ao controlar estes fatores, os investigadores identificaram um padrão claro: o risco de desenvolver problemas de saúde aumenta à medida que o consumo de álcool aumenta.

Mesmo pequenas quantidades aumentam o risco

O risco relacionado com o álcool não aumenta de forma gradual – acelera com o consumo. Estudos recentes indicam que o ponto de viragem ocorre muito mais cedo do que se pensava: uma bebida por dia já eleva o risco de morte por causas relacionadas com o álcool de 1 em 1.000 para 1 em 100.

Relatórios governamentais, como o Relatório de Orientações sobre o Álcool e a Saúde do Canadá, publicado em 2023, estimam que o aumento do risco começa quando se passa de duas bebidas por semana para três a seis por semana. Nos Estados Unidos, dados semelhantes indicam que o risco sobe significativamente ao passar de sete para nove bebidas semanais. “O risco aumenta muito depressa”, alerta David Streem, psiquiatra e direto clínico do Centro de Recuperação de Álcool e Drogas na Cleveland Clinic.


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