Empréstimo do FMI depende da viabilidade económica da Ucrânia, que pode depender de uma decisão que Bruxelas ainda não tomou

Pressionada na linha da frente em vários pontos, a Ucrânia arrisca-se agora a ficar sem um apoio fundamental. De acordo com o Politico, o Fundo Monetário Internacional (FMI) está a ponderar cortar o financiamento a Kiev, o que pode levar a um colapso financeiro.

Em causa está a recusa da Bélgica em apoiar um plano para que a Comissão Europeia financie a Ucrânia com um empréstimo multimilionário que daria à Ucrânia um novo fôlego.

O FMI avisa que o chumbo dessa proposta, avaliada em 140 mil milhões de euros, poderá levar à perda da confiança na viabilidade económica da Ucrânia, o que levaria o fundo a cortar o empréstimo de sete mil milhões de euros que deverá chegar ao longo de três anos.

A proposta em causa prevê a utilização dos bens congelados da Rússia, naquele que seria uma espécie de “empréstimo de reparações”, e que forçaria Moscovo a pagar parte dos danos da guerra que causou.

Só que a Bélgica não está convencida, o que ameaça deitar tudo por água a baixo, uma vez que há necessidade de uma unanimidade entre os 27 para esta proposta ser aprovada.

No entender dos aliados, o empréstimo do FMI é essencial para manter a máquina financeira da Ucrânia a funcionar. Agora, tudo isso está em risco.

O Politico refere, citando um responsável da Comissão Europeia e diplomatas de três países, que só esse acordo é que pode convencer o FMI a ver a Ucrânia como um país viável financeiramente nos próximos anos, algo que o fundo entende ser essencial para avançar com o empréstimo.

A oposição da Bélgica foi confirmada durante uma reunião dos líderes da União Europeia, o que agora coloca um problema temporal, como confessa uma das fontes do Politico.

A próxima reunião em que o assunto estará em cima da mesa acontece apenas a 18 e 19 de dezembro, datas em que o futuro financeiro da Ucrânia pode estar em jogo. É que os Estados Unidos decidiram cortar significativamente o apoio, deixando Kiev à mercê da capacidade da União Europeia para manter a credibilidade internacional.

E o problema nem é o empréstimo do FMI em si, que acaba por ser pequeno na dimensão que falamos, mas antes o sinal que isso dá. É que o chumbo ou a aprovação do pacote envia sinais completamente diferentes aos investidores, o que pode fazer a diferença junto dos mercados e da capacidade da Ucrânia se financiar.

“É um marco para os outros países e instituições avaliarem se a Ucrânia está a ter uma governança apropriada”, refere um responsável ucraniano ao Politico, sabendo-se que responsáveis do FMI têm visita marcada para a Ucrânia ainda esta semana.

E se para já se discute a credibilidade internacional da Ucrânia, a montante estão os tais 140 mil milhões de euros. Da última vez que o assunto foi discutido, os líderes europeus decidiram retirá-lo da mesa como uma concessão à Bélgica.

Esse mesmo texto referia apenas um “convite à Comissão Europeia para apresentar, tão cedo quanto possível, opções para o apoio financeiro baseado nas necessidades da Ucrânia”.

A Ucrânia fica agora à espera da visita do FMI e das reuniões em Bruxelas. Ambas podem decidir a sua capacidade de continuar a resistir à invasão russa enquanto alimenta a máquina do Estado social.