Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, diz que recebeu garantias do seu homólogo chinês, Xi Jinping, e de membros do seu Governo, de que a República Popular da China não vai invadir a Taiwan enquanto ele estiver no cargo. Estando Trump proibido pela Constituição norte-americana de concorrer a um terceiro mandato, a sua presidência termina oficialmente em Janeiro de 2029.

Em entrevista ao programa 60 Minutes, da CBS News, reproduzida no domingo, o chefe de Estado norte-americano garante que o debate sobre a ilha reivindicada por Pequim como uma província chinesa não entrou na reunião que teve na semana passada com Xi, na Coreia do Sul, mas assegura que obteve essas garantias noutros “encontros”.

“Ele [o Presidente chinês] disse abertamente – e a sua equipa já disse abertamente – em encontros: ‘Nunca faríamos nada enquanto o Presidente Trump for Presidente’, porque eles compreendem as consequências”, afirmou Trump.


Questionado sobre se os EUA interviriam militarmente em defesa de Taiwan se o território fosse atacado pela China, o Presidente respondeu de forma evasiva, mas na mesma linha.

“Vão saber, se isso acontecer, e [Xi] sabe a resposta a essa pergunta. Ele nunca tocou no assunto [no encontro]. As pessoas ficaram um pouco surpreendidas por isso. Mas ele nunca tocou no assunto porque compreende e compreende muito bem”, disse Trump. “Não posso revelar os meus segredos (…), mas o outro lado sabe.”

Donald Trump e Xi Jinping encontraram-se na quinta-feira da semana passada em Busan, na Coreia do Sul, antes da cimeira da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC), tendo chegado a acordo para uma pausa de um ano na guerra comercial entre EUA e China, para a suspensão das taxas sobre materiais raros e para a necessidade de uma reavaliação do comércio de semicondutores.

A questão de Taiwan, ilha governada de forma autónoma desde 1949 e democrática desde a segunda metade dos anos 1980, para onde fugiram os derrotados da guerra civil chinesa, contra Mao Tsetung, não foi referida em nenhum dos comunicados das partes após o encontro.

No dia seguinte, porém, Pete Hegseth, secretário da Defesa dos EUA, revelou que falou com Dong Jung, seu homólogo chinês, sobre as “preocupações” norte-americanas “com as actividades da China no mar do Sul da China, em redor de Taiwan e em relação aos aliados e parceiros dos EUA na região Indo-Pacífico”.

Sem se referir directamente às declarações do Presidente norte-americano na CBS, Liu Pengyu, porta-voz da embaixada da China em Washington D.C., afiançou, citado pela ABC News, que a China “nunca irá permitir que qualquer pessoa ou força separe Taiwan da China, de nenhuma forma”, insistindo que apenas “diz respeito ao próprio povo chinês e somente o povo chinês pode decidir” sobre a resolução da “questão de Taiwan”, um “assunto interno da China”.

Receios de Taiwan

As autoridades políticas e militares de Taiwan acreditam que o Exército da Libertação do Povo chinês está a preparar-se para invadir a ilha até ao final da década e que tem utilizado os cada vez mais recorrentes exercícios militares na região para preparar esse ataque.

O facto de Xi Jinping e de outras figuras de topo do Governo e do Partido Comunista Chinês dizerem várias vezes que a China “nunca irá renunciar ao uso da força” para cumprir o “desígnio histórico” da “reunificação” com Taiwan, tem levado Taipé a intensificar os seus apelos aos EUA e à comunidade internacional para que a ajudem a resistir à “ameaça” de Pequim.

As várias administrações norte-americanas que tiveram de lidar com a questão taiwanesa desde que os EUA passaram a reconhecer a República Popular da China, em vez da República da China (Taiwan), como detentora do poder político e constitucional chinês, em 1979, têm adoptado a chamada política de “ambiguidade estratégica”.


Através desta abordagem, a Casa Branca respeita o princípio “uma só China”, segundo o qual a China continental e Taiwan fazem parte do mesmo espaço soberano, mas não deixa de fornecer meios, nomeadamente armas, para que o território se possa defender num cenário de ataque.

O interesse pela posição norte-americana num potencial cenário de agressão chinesa a Taiwan ganhou novo ímpeto não só porque Trump afirma sempre que pode que, consigo na presidência, os EUA não vão envolver-se em nenhum conflito armado, mas também porque o seu antecessor, Joe Biden, admitiu a possibilidade de o país recorrer à força para defender a ilha também conhecida como Formosa.

Com 23 milhões de habitantes, Taiwan é a principal produtora de semicondutores a nível mundial, e está estrategicamente localizada na chamada primeira cadeia de ilhas, entre o mar do Sul da China, o mar Oriental da China e o mar das Filipinas.