As negociações entre a Impreger, dona da sociedade que controla a SIC e o Expresso, e a MediaForEurope (MFE) estão em curso e deverão ser anunciadas ao mercado até ao final desta semana: Depois de avanços e recuos, a operação será feita por aumento de capital na empresa cotada, a Impresa, com a entrada dos italianos com uma posição acionista até 33,3%, o que dispensará a obrigação de uma OPA, apurou o ECO junto de fontes conhecedoras do negócio. Com esta operação, a Impresa receberá uma injeção de capital entre 20 milhões e 40 milhões de euros, em função do valor do aumento de capital por ação. Mas no desenho da operação, esta será a primeira de duas operações, para, a prazo, assumir o controlo da companhia, uma estratégia idêntica à que confirmaram, há poucas semanas, na Alemanha.
Impresa precisa de 80 milhões para reequilibrar contas
As ações da Impresa estão suspensas de negociação em bolsa desde a passada sexta-feira. Questionado pelo ECO, a resposta oficial mantém-se: “A Impresa sempre comunicará ao mercado a existência de informação relevante, nos termos legalmente previstos. Não há qualquer informação relevante que deva ser comunicada”.
De acordo com as contas do ECO, e tendo em conta o atual capital social da Impresa, um aumento de capital que cumpra o objetivo de não ultrapassar os 33,3% do capital, limite para evitar a mudança de controlo da sociedade e a obrigação de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA), será no máximo de cerca de 41 milhões de euros se fosse ao chamado valor nominal, isto é, um euro por ação. Mas tendo em conta a situação financeira da companhia, haverá um desconto nesse montante. No cenário de um desconto de 50% face ao valor nominal, e tendo em conta que o capital social da Impresa é de 84 milhões de euros, um aumento superior a 20 milhões permitirá chegar aos referidos 33%.
Nos dois cenários, e tendo em atenção que os herdeiros da Pinto Balsemão, desaparecido recentemente, controlam 51,81% dos direitos de voto, passarão para uma posição muito próxima de 35%, seguidos dos italianos com 33%. Terão, ainda assim, de evidenciar à CMVM que não têm uma posição concertada, sob pena de serem mesmo obrigados a lançar uma oferta mesmo com o limiar do novo acionista abaixo dos 33,3%.
Na passada sexta-feira, recorde-se, o supervisor de mercado decidiu suspender a negociação de ações da Impresa SGPS, a sociedade cotada proprietária da SIC e do Expresso, depois de uma notícia da newsmagazine Sábado que apontava para um desenvolvimento do negócio em duas fases: Num primeiro momento, a MFE assumiria uma posição minoritária. Agora, de acordo com informações recolhidas pelo ECO, o negócio está estabilizado e será feito através da Impresa, e não da Impreger.
Inicialmente, no dia 27 de setembro, a Impresa confirmou a existência de negociações com os italianos da MFE, antiga Mediaset, sem adiantar pormenores dos termos do negócio. Admitia-se, à data, que um dos cenários seria mesmo uma tomada de controlo da Impreger, facto reforçado, dias depois, pela informação ao mercado da própria Impresa de que poderia haver mudança de controlo acionista do grupo. Ora, à luz dos artigos 186º e seguintes do Código de Valores Mobiliários, uma mudança de controlo na Impreger obrigaria a uma oferta. Foi precisamente esse quadro que levou à subida vertiginosa do valor da Impresa em bolsa nas últimas semanas.
Agora, o cenário, não desmentido, parece ser outro. Os cinco filhos – Mónica, Henrique, Francisco Maria, Joana e Francisco Pedro – partilham as ações na Balseger, que detém 71,4103% do capital social da Impreger SGPS, SA, que por sua vez tem 50,311% dos direitos de voto da Impresa, dona do Expresso e da SIC, de acordo o comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Os herdeiros pediram ainda a “derrogação do dever de lançamento de oferta pública de aquisição”, com o argumento que não houve aquisição para obter controlo, mas apenas sucessão natural.
Esta operação dos italianos é a primeira de um conjunto de intervenções que se seguirão, para reforçar uma estrutura de capital débil e sob pressão, por causa da dívida. De acordo com outra fonte, haverá neste contexto uma negociação com a banca para um haircut da dívida, com a referência nos 30%, além do objetivo de voltar a vender o edifício, num modelo de sale and leaseback, depois do falhanço do negócio com um fundo do BPI há umas semanas. A prazo, o caminho será mesmo o de controlo maioritário da Impresa.