Entre 2026 e 2027, todos os jovens de nacionalidade alemã deverão preencher um questionário sobre a sua vontade, aptidão e disponibilidade para servir no exército nacional.
No caso das “mulheres e pessoas de outros géneros, responder às perguntas é voluntário”, segundo o Ministério da Defesa.
Os jovens cidadãos passam a receber uma carta após o seu 18.º aniversário, com um código QR que os direciona para um formulário online.
Esta abordagem apresenta-se como uma forma rápida para identificar e avaliar as forças disponíveis e incentivar potenciais candidatos a fazer testes para ingressão no serviço militar.
A partir de 2028 todos os homens de 18 anos de nacionalidade alemã serão submetidos a testes obrigatórios de aptidão para o serviço militar, incluindo exames médicos, mesmo que afirmem não estar interessados.
Este conjunto de medidas fazem parte de um projeto de lei sobre “o novo serviço militar” apresentado pelo Governo alemão.
Ameaça russa
Em 2011, a Alemanha estabeleceu o fim do serviço militar obrigatório embora no texto da norma não referisse que uma abolição, apenas uma suspensão. Numa cláusula ficava uma reserva: caso o país fosse ameaçado ou estivesse sob ataque, o sistema militar deixaria de ser voluntário.
Agora, essa suspensão pode estar prestes a ser levantada devido a necessidades de defesa nacional.
O ministro alemão de Defesa, Boris Pistorius, alertou que a Europa está a enfrentar uma crescente ameaça à segurança e aponta o dedo à Rússia.
“De acordo com as avaliações de especialistas militares internacionais, deve-se supor que a Rússia estará na posição de atacar um Estado da NATO, ou um Estado vizinho, a partir de 2029″, disse Pistorius citado na emissora pública de radiodifusão da Alemanha, Deutsche Welle.
A Alemanha, que se tinha comprometido a modernizar e expandir o seu exército, vê agora o processo de continuidade com o Governo de coligação. Os conservadores e social-democratas querem estabelecer um novo serviço militar mais atraente, baseado, para já, no voluntariado.
Porém, Pistorius promoveu uma série de medidas para enfrentar essa ameaça russa, incluindo uma proposta que reintroduziria uma espécie de serviço militar obrigatório. Essas medidas encontrariam um equilíbrio entre o atual modelo de serviço militar voluntário e serviço seletivo.
“Todos podem decidir por si mesmos quanto tempo querem servir nas Forças Armadas”, explicou o ministério de Defesa. “Independentemente disso, todos os outros tipos de alistamento, seja como soldado em serviço temporário ou como soldado profissional, continuarão a existir”, acrescentou.
O plano de Pistorius para fortalecer o exército já foi aplaudido pelo presidente Frank-Walter Steinmeier, que aos microfones de emissora pública ZDF afirmou que era “a favor do serviço militar obrigatório”
Steinmeier argumentou ainda que a tensa situação de segurança da Europa, a guerra da Rússia na Ucrânia e a posição do Governo dos EUA sobre as relações transatlânticas sob o presidente Donald Trump justificam a medida.
Fortalecer o exército
O exército alemão, ou Bundeswehr, tem atualmente cerca de 181 mil funcionários ativos mais 49.000 reservistas, o Governo estima a necessidade em cerca de 460 mil, ou pelo menos 260 mil soldados ativos e cerca de 200 mil reservistas.
Para atrair jovens, o exército promete um serviço militar onde eles possam adquirir formação adicional, como o manuseio de novas tecnologias (como drones) ou cursos de idiomas, por exemplo.
O novo modelo de recrutamento em debate também prevê a possibilidades de prorrogar o período de serviço, durante o qual a formação profissional pode ser concluída, tudo para atrair candidatos. Este formato existiu durante a Guerra Fria.
Se houver voluntários suficientes, o sistema poderá permanecer facultativo. Se não, o projeto de lei prevê o recrutamento obrigatório.
No entanto este sistema só poderá ser ativado se “a situação de segurança” o exigir e o Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento, confirmar aprovação.
A Alemanha argumenta que este modelo é inspirado no caso sueco, que reintroduziu o recrutamento em 2017. No sistema militar da Suécia apenas alguns milhares de cidadãos prestam o serviço militar, dependendo das necessidades do exército. Mas perante alguma crise, todos os jovens são elegíveis para prestar serviço civil para ajudar a defender o país.
Este ano, a Alemanha conta com 15 mil jovens a prestar serviço militar voluntário.
As medidas propostas pelo ministro já foram submetidas ao parlamento alemão.
A espectativa é que haja uma decisão antecipada ainda “antes das atividades parlamentares ficarem suspensas pelas férias de verão”. O Ministério da Defesa defende que “essa decisão deve melhorar significativamente a prontidão operacional das forças armadas”.
Berlim prevê um aumento de três mil a cinco mil novos militares por ano, alcançando a barreira dos 40 mil até 2031.
c/agências