Com lançamento marcado para sexta-feira, 7 de novembro, Lux é um dos álbuns mais aguardados do ano. É o quarto longa-duração da carreira de Rosalía, o sucessor do muito popular e aclamado Motomami (2022). Este é um disco nascido de um desgosto amoroso, mas que vai muito além dessa premissa. Face a um revés sentimental, Rosalía vira-se para a espiritualidade — para a luz e a intervenção divina —, um registo que caracteriza todo este novo trabalho.
É uma mensagem, aliás, que está bem patente no único single de avanço de Lux, a impactante Berghain. Rosalía decidiu evocar o nome do famoso clube de Berlim, um dos maiores templos mundiais do techno e da música eletrónica, para uma canção em que colabora com Björk e Yves Tumor, cantada em alemão, castelhano e inglês.
É uma ópera pop avant-garde com orquestra, um tema intrigante cujo videoclipe, realizado por Nicolas Méndez, ajuda a explicar a narrativa — e todo o conceito do álbum. Encurralada por um intenso turbilhão de pensamentos intrusivos, de nervos e ânsias, aqui representados pelos muitos músicos de orquestra que a rodeiam a cada momento do quotidiano, Rosalía representa uma mulher que sofre de um problema de coração — que tanto é simbolizado pela joia como pelo exame cardiológico a que é submetida.
[o vídeo de “Berghain”:]
Na consulta — neste caso, com um joalheiro — não recebe um diagnóstico favorável, Rosalía apercebe-se de que os seus problemas são incuráveis. Ao regressar a casa, sente-se perdida como uma Branca de Neve numa floresta fria e obscura. “A única forma de nos salvarmos é a intervenção divina”, ouve-se na voz de Björk. E, nos segundos finais da canção, a percussão a decrescer referencia um coração que se dissipa, que pára de bater. Deitada na cama, Rosalía fecha os olhos, um cubo de açúcar entranha-se de escuridão e a protagonista desta história transforma-se numa pomba que, finalmente, consegue voar.
Esta ideia de renascimento e de cura, de transcendência através da espiritualidade, atravessa todo o disco. Ao longo de 18 faixas divididas por quatro atos, numa jornada com uma hora de duração, abundam as referências de auto-empoderamento feminino através de referências religiosas. “No soy una santa pero estoy blessed”, canta em Reliquia. “I was made to divinize”, ouvimos em Divinize. “Soy la Lux del mundo”, escuta-se em Porcelana.
“Cruz en mi pecho, calibra mi cuerpo” é um dos versos de De Madrugá, entre outras alusões a anjos, ao pecado e ao perdão, ao Céu e ao Inferno, à mitologia cristã, entregando-se ao sagrado (que também é profano) como forma de resistência. “Ponho-me gira para Deus, não para ti nem para ninguém”, ouvimos em Novia Robot. Na derradeira faixa do disco, Magnolias, a jornada da artista culmina nesse encontro divino. “Deus descendo e eu a ascender, encontramo-nos no meio. Converto-me em pó”, canta Rosalía.