O advogado Pedro Delille renunciou ao mandato de advogado do ex-primeiro-ministro José Sócrates no processo Operação Marquês, segundo confirmou aos jornalistas fonte do Tribunal Central Criminal de Lisboa.

A renúncia deu entrada na manhã desta terça-feira, 4 de novembro, e o advogado alega “razões deontológicas”.

Pedro Delille defendia o ex-primeiro-ministro há vários anos. Com esta renúncia, José Sócrates fica sem advogado tendo sido chamado um advogado oficioso para o representar.

A sessão agendada para esta terça-feira, destinada à audição de testemunhas, mantém-se. Segundo a CNN Portugal, o advogado oficioso pediu um adiamento, alegando não conhecer o processo em detalhe, mas o coletivo de juizes indeferiu o pedido.

Na quinta-feira passada, 30 de outubro, o tribunal que está a julgar José Sócrates ordenou a participação à Ordem dos Advogados da conduta de Pedro Delille por considerar que esta foi ofensiva dos deveres deontológicos daqueles profissionais. Em causa, o facto de o advogado ter chegado atraso por presumir que que a sessão iria começar mais tarde do que o agendado uma vez que a mãe de Sócrates não compareceu, tendo este apresentado na véspera um atestado médico.

Já no julgamento, o causídico tentou explicar o atraso ao tribunal e apresentar um protesto, tendo sido impedido de o fazer pela magistrada.

“Não me vai ralhar”, retorquiu Pedro Delille, com a juíza a ripostar que “acabou a brincadeira”.

Agora, segundo a carta enviada ao tribunal e citada pela CNN Portugal, o advogado diz: “Fiquei definitiva e absolutamente convencido, após o episódio da passada quinta-feira, que soma a tudo o resto oportunamente denunciado, de que continuar neste julgamento violenta em termos insuportáveis a minha consciência e a ética que me imponho, a minha independência, integridade e dignidade profissional e pessoal – repudio e recuso participar e validar, um minuto mais que seja, neste simulacro de julgamento, neste ‘julgamento de brincar'”.

José Sócrates, de 68 anos, está pronunciado (acusado após instrução) de 22 crimes, incluindo três de corrupção, por ter, alegadamente, recebido dinheiro para beneficiar em dossiês distintos o grupo Lena, o Grupo Espírito Santo (GES) e o ‘resort’ algarvio de Vale do Lobo.

No total, o processo conta com 21 arguidos, que têm, em geral, negado a prática dos 117 crimes económico-financeiros que lhe são imputados.