As autoridades que estão a investigar o assalto ao Museu do Louvre, ocorrido no dia 19 de outubro, identificaram falhas significativas no sistema de segurança do edifício, segundo noticiou o jornal francês Libération. De acordo com os relatórios, há pelo menos uma década que se registam vários problemas relacionados com a segurança do museu, incluindo o uso de programas de software desatualizados e a utilização de palavras-passe demasiado simples.
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A ministra da Cultura, Rachida Dati, que inicialmente garantiu que “os dispositivos de segurança do museu não falharam”, acabou por admitir perante o Senado que, de facto, “existiram falhas de segurança“. Documentos e auditorias confidenciais revelam que o museu tem sido alertado, há pelo menos onze anos, para falhas informáticas críticas que nunca chegaram a ser totalmente resolvidas. Face a esta situação, o ministério anunciou a a adoção das primeiras medidas de urgência para auditar e reforçar os mecanismos de segurança do museu.
Em dezembro de 2014, a Agência Nacional de Segurança dos Sistemas de Informação (ANSSI, na sigla francesa) realizou uma auditoria aos sistemas informáticos do museu, com foco na rede de segurança que controla os acessos, alarmes e câmaras de videovigilância. O relatório, classificado como “restrito”, concluiu que “as aplicações e sistemas apresentam numerosas vulnerabilidades“. Durante os testes, os peritos conseguiram aceder à rede interna do museu, o que permitiria, em teoria, manipular os servidores de videovigilância ou alterar as autorizações de acesso por crachá.
O documento revelou, também, que os técnicos usaram palavras-passe extremamente frágeis — entre elas “LOUVRE” e “THALES” — e que vários computadores funcionavam com sistemas operativos antigos, como o Windows 2000. A ANSSI recomendou a substituição urgente desses sistemas, a utilização de palavras-passe complexas e a correção das falhas identificadas. Porém, auditorias posteriores mostraram que muitos problemas continuaram a existir.
Em 2017, um novo relatório do Instituto Nacional de Altos Estudos de Segurança e Justiça voltou a apontar “grandes carências” na segurança, incluindo falhas na formação das equipas, na gestão dos fluxos de visitantes e na manutenção dos equipamentos. O documento de 40 páginas sublinhou que “as tecnologias são envelhecidas e sofrem de disfunções técnicas regulares” e que parte dos sistemas informáticos continuava a operar em versões desatualizadas, como o Windows XP, sem antivírus atualizados nem bloqueio de sessão.
Além disso, a empresa responsável relatou ao Libération que não existia nenhum contrato de manutenção ativo e que, desde 2019, o museu não entrou em contacto para que este fosse renovado.
Entre 2019 e 2025, vários documentos de concursos públicos publicados pelo Louvre confirmam que o problema se agravou. O museu acumulou, ao longo de duas décadas, uma complexa rede de circuitos e programas que controlam a videovigilância, os acessos, os alarmes e a deteção de intrusões. O software Sathi, desenvolvido pela Thales e adquirido em 2003 para supervisionar o controlo de acessos e a videovigilância analógica, deixou de ser atualizado há vários anos. Segundo documentos de 2025, Sathi figura entre oito programas essenciais que “não podem ser atualizados”, alguns ainda a funcionar em servidores com Windows Server 2003 (descontinuado pela Microsoft desde 2015).
Já no início deste ano, a sede da Polícia de Paris iniciou uma nova auditoria de segurança no Louvre, cujas conclusões ainda não foram tornadas públicas. Vincent Annereau, comissário responsável pelo estudo, reconheceu perante o Senado que o sistema informático “necessita urgentemente de ser modernizado” e que a direção do museu tinha plena consciência da necessidade de “reavaliar o sistema de segurança de todo o museu”.
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