Trinta e seis dias depois, o actual shutdown do Governo norte-americano já é o mais longo da História e continua sem fim à vista. Esta quarta-feira, uma nova votação no Senado para conseguir pôr fim ao impasse e conseguir luz verde para financiar as actividades do Governo terminou com 54 votos a favor e 44 contra, sem conseguir a maioria de 60 votos de que precisava para ser aprovada.
É a 14.ª tentativa de fazer aprovar no Senado uma lei que garanta o financiamento temporário das agências federais até ao fim de Novembro. Desde o início de Outubro que o Governo norte-americano está com os serviços considerados “não essenciais” paralisados – ultrapassando, em número de dias, o shutdown registado entre final de 2018 e início de 2019, durante o primeiro mandato de Trump, que durou 34 dias.
Republicanos e democratas ensaiam algumas formas de sair do impasse. Chuck Schumer, líder da minoria democrata no Congresso, afirma que estão a ser consideradas “todas as opções” para um acordo que permita pôr fim à paralisação do Governo, que deverá custar cerca de 7 mil milhões ao país.
No entanto, a saída não se afigura fácil. Os democratas querem uma promessa firme de que os subsídios do Affordable Care Act (conhecido como Obamacare) não serão cortados, o que levaria a um aumento violento dos custos com saúde para os mais pobres. Já os republicanos dizem que não negoceiam até que os democratas votem pela reabertura do Governo. Mas o facto é que as posturas estão cada vez mais rígidas de cada lado e o confronto tem-se intensificado ao longo das últimas semanas.
Trump pede o fim do filibuster
O Presidente norte-americano parece ter uma ideia muito clara para o fim desta situação de bloqueio: a “opção nuclear”, como lhe chama. Sugere que o Senado elimine o filibuster, em português “fazer obstrução”, que permite que a minoria atrase a aprovação de legislação. Na prática, está a sugerir acabar com a regra que requer no mínimo 60 votos dos 100 membros no Senado, permitindo aprovar uma lei de financiamento a curto prazo para desbloquear o Governo.
Os democratas (que controlam 47 assentos no Senado) são contra a ideia, pelo seu impacto a longo prazo. Mas também os republicanos (que detêm uma maioria de 53 assentos) mostram reticências, alertando para a possibilidade de os democratas conseguirem uma maioria no futuro.
Donald Trump desvaloriza essas preocupações. Acredita que, se o Senado eliminar o filibuster, os republicanos conseguirão manter a maioria por conseguirem aprovar “leis populares”.
“Parem já com as obstruções, terminem imediatamente com este shutdown ridículo do Governo e, mais importante, aprovem todas as políticas maravilhosas republicanas com que sonhámos durante anos e nunca conseguimos”, escreveu o Presidente na terça-feira na rede social Truth. “Temos um país para abrir. E acho que podemos fazê-lo esta tarde ao eliminar o filibuster”, disse esta quarta-feira, durante um pequeno-almoço com os senadores na Casa Branca.
Alertou para as consequências que já se fazem sentir – junto da bolsa, mas também junto dos norte-americanos —, que se podem intensificar já em Novembro. Por exemplo, junto dos mais de 40 milhões de norte-americanos que dependem dos vouchers de alimentação – conhecidos como SNAP – que, por decisão judicial, estão a ser pagos (com atrasos) com recurso a um fundo de emergência “destinado a emergências, catástrofes e guerras”, descreveu a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, uma opção que o Presidente “não quer usar no futuro”.
Também na aviação se podem sentir efeitos, depois de os controladores aéreos e outros trabalhadores do sector terem ficado sem pagamentos durante o mês de Outubro. Esta quarta-feira, e depois de outra votação falhada no Senado, o secretário dos Transportes do EUA, Sean Duffy, alertou para a possibilidade de ser preciso fechar “algumas partes do espaço aéreo” do país, o que pode provocar “atrasos e cancelamentos em massa”, cita a CBS.
O tema está na cabeça da maioria dos norte-americanos. De acordo com uma sondagem da Ipsos para o Washington Post e a ABC News, três em cada quatro norte-americanos estão preocupados com a paralisação do Governo e 45% sentem-se inclinados a culpar Trump e os Republicanos pela situação.
O Presidente, por seu turno, atribui as culpas pelo fraco desempenho dos republicanos nas eleições da última terça-feira – na Virgínia, Nova Jersey, Califórnia e Nova Iorque, com o democrata Zohran Mamdani, conhecido como “anti-Trump”, a conseguir o lugar de mayor – ao shutdown, que não feriu os democratas como antecipava.