Devido à ação insuficiente dos governos nos últimos anos, “é muito provável que o mundo atinja um aquecimento de 1,5°C no início da década de 2030”.
“Isso significa que o mundo está a caminhar para um período em que vai ultrapassar o limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris”, de acordo com o estudo da Climate Analytics, que revela “como limitar essa ultrapassagem de 1,5°C ao nível mais baixo possível e trazer o aquecimento de volta para bem abaixo de 1,5°C até 2100, considerando a ambição mais elevada que poderia ser assumida pelos países, a partir de 2025”.
As metas dos governantes a nível mundial são inadequadas e têm de ser revistas rapidamente, alerta o relatório, divulgado no mesmo dia em que a cidade amazónica brasileira de Belém acolhe cerca de 60 chefes de Estado e de Governo para discutir o combate às alterações climáticas e demonstrar o que estão dispostos a fazer.
“Os altos riscos e os danos de se ultrapassar a meta de 1,5°C já foram amplamente comprovados pela comunidade científica. As políticas públicas precisam agora de se concentrar em limitar tanto a magnitude quanto a duração dessa ultrapassagem, para trazer o aquecimento de volta para limites abaixo de 1,5°C antes de 2100”.Novas medidas e esforços redobrados
Os autores do estudo Novas evidências sobre a ambição máxima possível para cumprir o Acordo de Paris advertem que, ultrapassado o limite estabelecido de 1,5ºC, não vale a pena mudar as metas do Acordo de Paris. Tem de se “redobrar os esforços para implementá-las”.
“O limite de 1,5°C foi escolhido por um bom motivo”, esclarecem os autores do estudo. “Dez anos após o Acordo de Paris, a ciência é mais clara do que nunca: 1,5°C é o limite planetário além do qual os impactos climáticos se intensificam e correm o risco de desencadear danos catastróficos”.
Há dez anos, a comunidade científica reconheceu que “a antiga meta de 2ºC defendida pela comunidade internacional não era um nível seguro de aquecimento e reforçou a meta de temperatura” o aquecimento global abaixo, limitando-o a 1,5ºC. Esta meta, recorda o relatório, exige que se atinjam emissões líquidas zero de Gases de Efeito Estufa a nível global na segunda metade do século XXI.
Reduzir as emissões é, sublinha, “essencial para reduzir as temperaturas globais”. E o limite de 1,5ºC do Acordo de Paris, embora esteja em risco de ser ultrapassado, continua válido. É uma meta que “serve de bússola, orientando a ambição e a ação do mundo para evitar” que seja ultrapassada, assim como “os impactos catastróficos que isso acarretaria”.
O mundo não tem conseguido reduzir as emissões, “fazendo com que as temperaturas globais se aproximassem rapidamente do limite de 1,5°C”. No entanto, “nos últimos cinco anos, as energias renováveis e outras tecnologias de carbono zero tiveram uma redução substancial de custos, tornando-se muito mais competitivas do que o previsto e permitindo uma implementação em larga escala mais rápida”.
“Maior Ambição Possível”
Num cenário a que os autores do estudo chamaram de “Maior Ambição Possível”, os especialistas indicam que há como garantir que o aquecimento atinja o limiar de 1,7ºC antes de 2050 e depois reduza para 1,5ºC até ao final do século. O plano do Climate Analytics visa a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e a utilização de tecnologias de remoção de carbono para reduzir o dióxido de carbono da atmosfera.
Este plano, segundo os mesmos advertem, não apaga o risco de ultrapassarmos o limite estabelecido no Acordo de Paris, nem impede o risco de degelo de parte da Gronelândia ou de a floresta amazónica se tornar numa fonte de libertação de carbono para a atmosfera.
“Ultrapassar o limite de 1,5°C é um fracasso político lamentável e trará danos maiores, além do risco de pontos de inflexão que poderiam ter sido evitados. Mas este roteiro mostra que ainda está ao nosso alcance reduzir o aquecimento para bem menos de 1,5°C até 2100”, afirmou Bill Hare, diretor executivo do grupo Climate Analytics, citado pelo Guardian.
“Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para limitar o tempo que passamos acima desse limite de segurança, a fim de minimizar o risco de danos climáticos irreversíveis e a devastação que seria causada pela ultrapassagem dos pontos de inflexão”.
Adotado em 2015, o Acordo de Paris compromete os seus signatários a reduzirem emissões de gases com efeito de estufa, para que o aquecimento global não ultrapasse o limite de 1,5 graus Celsius (°C) acima dos níveis pré-industriais, esperando-se agora que, dez anos depois, os países lancem novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) para os próximos 10 anos.
De acordo com os cálculos do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP, na sigla em inglês) divulgados na terça-feira, o aquecimento da Terra deverá atingir este século entre 2,3 e 2,5 °C acima dos níveis da era pré-industrial se os países implementarem planos climáticos previstos até agora.