Uma grávida de 40 semanas teve o seu bebé numa ambulância, na berma da A22, quando se dirigia para o hospital de Portimão, na passada sexta-feira.

A mulher tinha estado nessa mesma tarde naquele hospital, mas fora mandada para casa, segundo adiantou o Correio da Manhã. Algum tempo depois, terá começado a sentir contracções, o que levou o pai da criança a pedir socorro ao INEM.

Contudo, quando estava a cerca de cinco quilómetros do hospital, o bebé acabou por nascer dentro da ambulância. O recurso ao Hospital de Portimão decorreu de as urgências de obstetrícia do hospital mais próximo da sua área de residência, em Faro, estarem fechadas.

Na passada semana, durante a audição parlamentar a propósito do Orçamento do Estado para 2026, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, contabilizou os partos extra-hospitalares, entre 2022 e 2025, numa tentativa de relativizar as consequências do fecho intermitente das urgências por falta de obstetras. Segundo as contas da ministra, nasceram fora do hospital, em ambulâncias, na via pública e nos centros de saúde e no domicílio 169 crianças em 2022, 173 em 2023, 189 em 2024 e 154 em 2025.

A ministra adiantou ainda que hoje se sabe “exactamente quem são estas grávidas e o que aconteceu”.

“Posso assegurar-vos de que maioritariamente são grávidas que nunca foram seguidas durante a gravidez, que não têm médico de família; grávidas recém-chegadas a Portugal, com gravidezes adiantadas, que não têm dinheiro para ir ao privado, grávidas que, algumas vezes, nem falam português; que não foram preparadas para accionar o socorro; que, por vezes, nem telemóvel têm”, acrescentou.

Estas declarações foram prestadas dias depois de uma grávida ter morrido nas urgências do hospital Amadora-Sintra, em Lisboa, onde dera entrada em paragem cardiorrespiratória, pouco depois de ter sido mandada para casa “com ensino dos sinais de alarme”.

A mulher, de origem guineense, sofria de uma “hipertensão ligeiramente alta”, e, segundo a primeira versão adiantada pela ministra, não tinha tido qualquer acompanhamento médico até à data em que entrou no Amadora-Sintra. Esta versão viria a ser desmentida pouco depois, já que a grávida não só vinha sendo acompanhada pelo centro de saúde de Agualva-Cacém (que pertence à ULS do Amadora-Sintra), como tinha já tido duas consultas no próprio hospital, a 29 de Outubro e, antes disso, no dia 17 de Setembro.

O bebé nascido no âmbito de uma cesariana de emergência acabou por morrer no dia seguinte.

O caso acabou por levar o presidente do conselho de administração do Amadora-Sintra, Carlos Sá, a apresentar a sua demissão.